segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Quando um chinelo resolve virar professor de política


Durante décadas, as Havaianas cumpriram com excelência a sua missão no mundo: proteger pés brasileiros do chão quente, da areia e, em casos extremos, de um Lego esquecido no caminho. Simples, populares, democráticas. Mas aparentemente isso não era mais suficiente.

A marca decidiu que vender chinelos já não bastava. Era preciso educar a sociedade, dar lição política e, de quebra, usar uma figura publicamente alinhada à extrema esquerda para transformar uma propaganda em manifesto ideológico — com direito a críticas indiretas (e nem tão indiretas assim) à direita brasileira.

E aqui surge a pergunta inevitável: desde quando um chinelo virou ferramenta de militância?

Não se trata de censura, medo de opinião ou qualquer outro rótulo conveniente. Trata-se de coerência. Quando uma marca que sempre se vendeu como “de todo mundo” resolve abraçar um lado político específico, ela automaticamente deixa de ser de todos. O consumidor não comprou um discurso, comprou um produto. Borracha. Tiras. Numeração. Fim.

O problema não é a pessoa escolhida. É a escolha ideológica travestida de marketing moderno. É a ideia de que uma empresa que lucra vendendo um item básico agora se acha no direito — ou no dever — de “ensinar” algo à sociedade, como se o brasileiro precisasse de aula política vinda de uma campanha publicitária.

No fim das contas, a sensação é simples: a Havaianas esqueceu que chinelo não é palanque. Quem quer debater direita e esquerda vai para a política, para o jornal, para a universidade. Quem compra Havaianas só quer andar confortável — e, de preferência, sem ser doutrinado no caminho.

Talvez seja hora de a marca lembrar que neutralidade também é uma escolha. E, nesse caso, uma escolha inteligente. Porque quando até o chinelo resolve tomar partido, quem acaba escorregando é a própria marca.

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