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quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O fascismo tem origem no marxismo

Este artigos esta em Portugues de Portugal.

Se acham que o fascismo não tem origens marxistas, façam o favor de desmentir as provas que apresento nos meus romances.


Por José Rodrigues dos Santos


A minha afirmação de que o fascismo tem origens marxistas parece ter incomodado algumas almas, incluindo políticos que, à falta de melhores argumentos, recorreram ao insulto baixo. Nada de surpreendente, até porque reconheço que a afirmação contradiz ideias feitas e por isso precisa de ser fundamentada – o que é feito ao pormenor em As Flores de Lótus e em O Pavilhão Púrpura. Para quem preferir ficar-se pela rama, deixo aqui as ideias essenciais da viagem do marxismo até ao fascismo.

O marxismo surgiu num contexto de cientifismo. Newton tinha descoberto as leis da física e Darwin as da selecção natural. Indo no encalço desses dois vultos, e também de Hegel, Marx e Engels anunciaram que haviam descoberto as leis da história. Tal como as leis da física e da biologia, ambos concluíram que as leis da história eram deterministas e independentes da vontade humana.

E que leis eram essas? Eram as do determinismo histórico, estudadas pela sua nova ciência, o socialismo científico (tão científico, na sua opinião, quanto a física de Newton e a biologia de Darwin). A ideia era simples: ao feudalismo sucede-se o capitalismo, cujas contradições levarão inevitavelmente os proletários à revolução que conduzirá ao comunismo. Nesta visão a história é teleológica e determinista. Não é preciso ninguém fazer nada, pois a revolução do proletariado é inevitável.

Os anos passaram e não ocorreu nenhuma revolução, o que contradizia a teoria marxista. Como explicar isto? Surgiram duas teses revisionistas. A primeira, do marxista alemão Bernstein, foi a de que afinal o capitalismo não ia acabar, o operariado até estava a melhorar o seu nível de vida e o socialismo podia perfeitamente adaptar-se ao capitalismo. Esta corrente cresceu no SPD alemão e acabou na social-democracia como a conhecemos hoje em dia.




A segunda tese teve origem no marxista francês Georges Sorel. Numa obra tremendamente influente, Refléxions sur la violence, Sorel concluiu que a revolução não era inevitável nem seria espontânea. Teria de ser provocada. Como? Usando uma elite para guiar o proletariado e recorrendo à violência. Seria a violência que desencadearia a revolução.


Foi o marxismo soreliano que conduziu ao bolchevismo e ao fascismo. Lenine leu Sorel e apropriou-se dos conceitos revisionistas da elite, a famosa “vanguarda”, e do uso da violência. O mesmo Sorel foi lido com atenção em Itália, em particular pelos sindicalistas revolucionários, marxistas que adotaram a greve e a violência como formas de desencadear a revolução.


Em paralelo, um marxista austríaco, Otto Bauer, notou que no Império Austro-Húngaro os operários húngaros mostravam sentimentos de solidariedade mais fortes para com os burgueses húngaros do que para com os operários austríacos. Embora o marxismo fosse uma corrente internacionalista, Bauer buscou legitimidade nalgumas afirmações nacionalistas de Marx e Engels para lançar uma nova ideia revisionista. Concluiu ele que o comportamento dos operários húngaros mostrava que o sentimento de nação era afinal mais poderoso do que o sentimento de classe. O nacionalismo era revolucionário, argumentou, pois galvanizaria o proletariado para a revolução.


Esta ideia entrou em Itália pela pena de um marxista italiano de origem alemã, Roberto Michels, e influenciou os sindicalistas revolucionários italianos. Estes, contudo, enfrentaram a ortodoxia dos restantes marxistas, incluindo Benito Mussolini, o diretor do órgão oficial do partido socialista italiano, o Avanti!


Acontece que em 1911 ocorreu um acontecimento que iria abalar as convicções ortodoxas de Mussolini: a guerra ítalo-otomana pela Tripolitania. Mussolini opôs-se a essa guerra, mas ficou atónito com a reação do proletariado italiano, que exultava com as vitórias de Itália. Michels e os sindicalistas tinham razão!, concluiu Mussolini. As pessoas estão afinal mais dispostas a morrer pela sua pátria do que pela sua classe.


Quando a Grande Guerra começou, em 1914, ocorreu uma cisão no movimento socialista. A Segunda Internacional tinha determinado que os operários dos diferentes países não entrariam em guerra uns contra os outros, mas na hora da verdade os socialistas alemães, franceses e britânicos apoiaram a guerra. Apenas os bolcheviques russos e os socialistas italianos se opuseram.~










O problema é que nem todos os socialistas italianos estavam de acordo. Os sindicalistas revolucionários queriam a entrada de Itália na guerra porque achavam que ela seria o forno onde se forjaria o sentimento nacional dos italianos, cujo país era novo e buscava ainda a sua identidade, e que seria o sentimento de nação que uniria o proletariado italiano e desencadearia a revolução. Ou seja, a guerra derrubaria o capitalismo.


Mussolini começou por manter a linha do partido e opôs-se à entrada de Itália na guerra, mas depressa deu razão aos sindicalistas e defendeu que os socialistas italianos deveriam seguir o exemplo dos socialistas alemães, franceses e britânicos e apoiar a guerra. Esta mudança de posição valeu-lhe a expulsão do partido.


Os sindicalistas revolucionários italianos, incluindo Mussolini, fizeram então a guerra – uma posição perfeitamente em linha com a de outros marxistas europeus, incluindo os do SPD alemão. Quando o conflito terminou, os sindicalistas marxistas italianos pró-guerra regressaram a casa mas foram antagonizados pelos marxistas italianos anti-guerra. Em conflito com estes, os marxistas pró-guerra fundaram o movimento fascista, com reivindicações como o salário mínimo, o horário laboral de oito horas, o direito de voto para as mulheres, a participação dos trabalhadores na gestão das fábricas, a reforma aos 55 anos e a confiscação dos bens das congregações religiosas. Serei só eu a notar que estas reivindicações fascistas têm origem marxista?




O seu pensamento foi entretanto evoluindo. Recorde-se que Marx e Engels consideravam que o capitalismo era uma fase necessária e imprescindível da história humana e que sem capitalismo nunca haveria comunismo. Os bolcheviques renegaram esta parte do marxismo quando preconizaram que na Rússia era possível passar diretamente de uma sociedade feudal para o comunismo, mas neste ponto os fascistas mantiveram-se marxistas ortodoxos ao aceitar que o capitalismo teria mesmo de ser temporariamente cultivado em Itália.


Noutros pontos os fascistas desviaram-se da ortodoxia marxista. Por exemplo, aproximaram-se do revisionismo bolchevista quando abraçaram a ideia soreliana da violência provocada por uma vanguarda e afastaram-se do marxismo e do bolchevismo quando aderiram à ideia baueriana de que o sentimento de nação era para o proletariado mais galvanizador do que o sentimento de classe. Isto levou-os a dizer que a luta de classes não se aplicava a Itália porque esta era já uma nação proletária explorada pelas nações capitalistas. A luta de classes apenas iria dividir a nação proletária, pelo que em vez de conflitualidade deveria haver cooperação entre classes. O chamado corporativismo.


O seu pensamento continuou a evoluir, sobretudo em consequência do Bienio Rosso, altura em que os comunistas italianos lançaram uma campanha de ocupação selvagem de fábricas e de propriedades rurais. Estes eventos levaram os fascistas a afastarem-se mais do marxismo, pois entendiam que estas ações enfraqueciam a nação, que designavam de “classe das classes”, ao ponto de começarem a proclamar-se anti-marxistas. Convém no entanto recordar que Mussolini esclareceu que o fascismo objetava ao marxismo não por este ser socialista, mas por ser anti-nacional.


udo isto está explicado, com muito mais pormenor, em As Flores de Lótus e O Pavilhão Púrpura, e curiosamente nada disto foi desmentido por ninguém. Os meus críticos limitaram-se a constatar que os fascistas se descreviam como anti-marxistas – e assim foi a partir de certo ponto. Mas isso nada me desmente porque nunca disse que os fascistas, na sua fase já amadurecida, eram marxistas. O que eu disse, e repito, é que o fascismo é um movimento de origem marxista – o que é verdade.


Se acham que o fascismo não tem origens marxistas, façam o favor de desmentir as provas que apresento nos dois romances. E, já agora, aproveitem também para desmentir que o fascismo alemão se designava nacional-socialismo. Como acham que a palavra socialismo foi ali parar? Por acaso?






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sexta-feira, 28 de julho de 2023

As origens socialistas do fascismo

Uma das falácias mais persistentes é a alegação de que o fascismo é uma doutrina capitalista, ignorando seus atos e influências.


O fascismo além de aliado do nazismo, possui os mesmos princípios e origens, embora com certas diferenças. Em semelhança com o nazismo, o fascismo nada mais representa que outro filho bastardo do socialismo e do sindicalismo. Tais fatos são narrados ao longo da história política de Benito Mussolini.


Desde o início de sua carreira que Mussolini rapidamente se ensinou para as ideologias de massas, filiando-se ao Partido Socialista com apenas 17 anos. Em 1902, tentando fugir do serviço militar, emigrou para a Suíça, onde conheceu alguns políticos russos vivendo no exílio (incluindo os marxistas Angelica Balabonoff e Vladimir Lênin).


Mussolini tornou-se um membro ativo do movimento socialista italiano na Suíça, trabalhando para o jornal L'Avvenire del Lavoratore, organizando encontros, discursando para os trabalhadores, além de atuar como secretário da união dos trabalhadores italianos em Lausanne. Mas em 1903, foi preso pela polícia bernense e deportado para a Itália.


Ao retornar a Itália já estava desenvolvido e se destacava como um dos mais ativos socialistas italianos. Em 1910 retorna a sua cidade natal e passa a editar o jornal semanal Lotta di classe (A Luta de Classe). Neste período, publicou Il Trentino veduto da un Socialista.



Em 1911, Mussolini participou num motim (liderado por ativistas socialistas) contra a guerra italiana na Líbia. Ele denunciou-a como uma guerra imperialista com o propósito de capturar a capital Líbia Trípoli, mas isso custou-lhe 5 meses de vida na prisão.


Um ano depois, Mussolini ajudou a expulsar do partido dois revisionistas socialistas que apoiaram a guerra: Ivanoe Bonomi e Leonida Bissolati. Como resultado ganhou o cargo de editor do jornal do Partido Socialista Italiano o "Avanti!", que sob a sua liderança viu a sua circulação aumentar de 20.000 para 100.000 exemplares. Como redator do jornal ficou famoso por seu discurso anticapitalista. Em seus textos Mussolini atacava severamente as economias liberais.


Com o passor dos anos, o Partido Socialista Italiano decidiu não se opor ao governo emocionado por cinco vezes pelo Primeiro Ministro Giovanni Giolitti. Coligados com o governo, o PSI elevara sua influência eleitoral.


Entretanto, o partido permanecia dividido entre dois grupos: os Reformistas liderados por Felippo Turati e que exerciam forte influência junto dos sindicatos, e os Maximalistas, liderados por Constantino Lazzari, que eram afiliados ao “London Bureau”, uma associação internacional de partidos socialistas.


Para resolver o impasse interno, Mussolini liderou o grupo dos Maximalistas em uma convecção do PSI, o que levou a uma decisão interna e que forçou os reformistas a fundar o Partido Socialista Reformador Italiano.


Em 1919 Mussolini fundou os Fasci Italiani di Combatimento, organização que daria origem ao Partido Fascista. Com base em suas perspectivas políticas de caráter socialista, consegiu milhares de afiliados. Não obstante, Mussolini criou a própria ideologia a partir de suas influências antigas, e tal como elas, o fascismo exigia um imposto progressivo, a formação de cooperativas e um ambiente onde partidos, associações, sindicatos, classes seriam um só corpo.


Na Enciclopédia Italiana de 1931, escrita por Giovanni Gentile e Benito Mussolini, o fascismo é descrito como uma doutrina cujo “fundamento é a concepção do Estado, da sua essência, das suas competências, da sua finalidade. Para o fascismo o Estado é um absoluto, perante o qual indivíduos e grupos são o relativo. Indivíduos e grupos são “pensáveis” enquanto estiverem no Estado”.



A doutrinas fascista era de cunho colectivista e previa controle da economia e estatização; portanto não eram diferentes de qualquer outra forma de socialismo.


Embora o ditador tivesse distanciado do socialismo de reformas gradativas para um socialismo violento e revolucionário (aos moldes do comunismo a qual se opunha), não ignorava suas origens.


Em 1932, identifica “no grande rio do fascismo”, as correntes que nele vão desaguar, e que terão como suas fontes em Georges Sorel, Charles Peguy, Hubert Lagardelle do Movimento Socialista, e nos sindicalistas italianos Angelo Oliviero Olivetti da Pagine Libere, Orano de a Lupa, o Enrico Leone do Divenire Sociale e que segundo ele, levou entre 1904 e 1914, o novo tom ao ambiente do socialismo italiano.


Mussolini não tinha meios nem a necessidade de esconder suas origens socialistas, e embora fosse anticomunista, seu sistema é bem parecido como o modelo stalinista através da reengenharia social, controle da produção, consumo, preços, recebimentos, aluguéis, mídia, comunicação, campos de confinamento de prisioneiros, extermínio em massa, coerção militar, imperialismo e liderança absoluta.


Tal como no comunismo de Stalin, o Fascismo e o Nazismo eram estatólatras (culto ao chefe de Estado) e contrários às liberdades individuais. Eram opositores da democracia e do liberalismo. O fascismo, assim como toda doutrina socialista, visa reformar o homem, controla seus hábitos através de uma liderança populista e demagoga.


Com um linguajar forte e que supostamente resolveria todos os problemas, Mussolini tornara-se um dos maiores tiranos da história. Para muitos estudiosos da época, Mussolini não era apenas um simples redator que se tornaria um soberano, mas o Lênin italiano - o líder de uma facção revolucionária que visava destruir o capitalismo de mercado livre.


Referências:
Jonah Goldberg – Fascismo de Esquerda
Gerald Leinwand - O desfile da história mundial
Margherita G. Sarfatti – A Vida de Benito Mussolini
Charles F. Delzel, Harper Rowe – Fascismo Mediterrâneo
Brenda Haugen – Benito Mussolini
Esquerdismo moderno como fascismo reciclado


~ Christiano Di Paulla - Modificado a partir do original: https://bit.ly/2VOqtDC

Fonte;http://omarxismocultural.blogspot.com/2020/04/as-origens-socialistas-do-fascismo.html