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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Crianças que enxergam espíritos

 


Confesso que relutei um pouco antes de decidir escrever sobre esse assunto aqui. O que vou falar nesse artigo não é algo que qualquer pessoa consegue entender. De repente posso até virar motivo de chacota, mas mesmo assim vou em frente.


Vamos direto ao assunto

Antes deixa eu contar meu testemunho pessoal: posso dizer que minha infância não foi fácil... eu era atormentado constantemente por visões sobrenaturais, e isso para uma criança é horrível! Acredite em mim.

O que me deixava com mais medo era saber que eu iria ver aquilo novamente, mas não sabia quando. Essas coisas apareciam em intervalos irregulares e isso me fazia ser uma criança medrosa, pois ficava sempre apreensivo.

Eu evitava a todo custo ficar sozinho. Até quando ia tomar banho minha mãe tinha que ficar “de guarda” na porta do banheiro.
Mas o que mais me incomodava mesmo era quando eu ia contar sobre minhas visões para alguém e percebia que aquela pessoa não estava acreditando em mim. Isso me deixava doido!

Sobre as visões

Minhas visões eram nítidas. Isso significa que eu não via vultos. Quando eu via alguma coisa, podia observar detalhes, tais como cor dos olhos, roupas, cor da pele, etc. Em alguns casos essas entidades apareciam e sumiam do nada. Uma delas, talvez a mais marcante, tinha uns três ou quatro metros de altura e apareceu num terreno baldio.

Elas apareciam tanto quando eu estava sozinho ou acompanhado, mas só eu conseguia enxerga-las. Às vezes se mexiam, outras vezes ficavam estáticas. Em momento algum essas entidades conversaram comigo. Elas ficavam sempre caladas.

Em pelo menos três ocasiões essas entidades conseguiram mover coisas materiais. Uma delas deu um tapa em uma vela que eu tinha acendido para o meu pai no dia dos finados (quando ainda era católico), mandando a vela longe.

Em vista disso passei a infância toda tentando entender porque só eu podia ver aquelas coisas. Cogitava na possibilidade de ser a única criança do mundo com esse “dom”. Claro que na minha época de criança não era tão fácil pesquisar sobre essas coisas, pois não existia internet. Quando a gente queria pesquisar sobre alguma coisa, tínhamos que ir até uma biblioteca e passar horas folheando livros. Era algo realmente muito cansativo!

Hoje sei que essa capacidade que algumas crianças têm de ver espíritos é mais comum do que eu imaginava. Já li diversos relatos, vi muitos vídeos sobre o assunto. Até conheci pessoalmente pessoas que também tiveram visões durante a infância.


Se você conhece alguma criança que diz ver espíritos, não duvide dela. Ela pode estar dizendo a verdade.

Tentativas de explicar o fenômeno


“Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e disseram: ‘É um fantasma!’ E gritaram de medo. ” (Mateus 14:26)


Praticamente todas as religiões têm suas explicações sobre isso. Evangélicos provavelmente dirão se tratar de visões demoníacas, visto que para eles os mortos estão incomunicáveis. Católicos provavelmente vão dizer que são espíritos de pessoas falecidas e por aí vai.

Para alguns espíritas a capacidade de ver espíritos não é necessariamente um dom sobrenatural, mas uma habilidade física ligada à glândula pineal, uma pequena glândula localizada na parte central do cérebro e que tem a função de produzir melatonina, um hormônio derivado da serotonina, que é capaz de ajudar o seu organismo a se preparar para dormir.




Alguns místicos consideram essa glândula como sendo um tipo de “terceiro olho” ou um tipo de “antena que se comunica com o mundo espiritual”.

Renê Descartes, cerca de 400 anos atrás, dizia que a glândula pineal é o ponto onde a alma se liga ao corpo.

Para a ciência convencional essas visões não têm nada a ver com o sobrenatural, mas são criadas pelo próprio cérebro. Alguns cientistas acham que frequências eletromagnéticas baixas podem estimular determinadas áreas do cérebro e criar ilusões.


As experiências


Michael Persinger

O neurologista Michael Persinger (1945 - 2018), por exemplo, usava ondas eletromagnéticas para fazer testes com pessoas desde a década de 1980 e parece que andou tendo êxito em provocar algumas alucinações em suas cobaias humanas usando o seu famoso “capacete de Deus”, um dispositivo que produzia essas frequências eletromagnéticas baixas (Cook e Persinger, 1997).



Capacete usado nos estudos de Persinger (Capacete de Deus)


Questionando os resultados de Persinger No entanto, porém, uma equipe de psicólogos suecos liderada por Pehr Granqvist da Universidade de Uppsala resolveu visitar o laboratório de Persinger para coletar dados adicionais sobre a pesquisa e acabou descobrindo que as “cobaias de Persinger” sabiam sobre o uso das frequências eletromagnéticas, o que deve ter comprometido os resultados do estudo, uma vez que as visões dessas pessoas poderiam estar ocorrendo por sugestão e não por causa dos sutis campos magnéticos (Granqvist et al. 2005; Larsson et al. 2005).


Refazendo os testes e descobrindo a verdade

Para descartar essa possibilidade em seu próprio trabalho, Granqvist fez com que todos os seus participantes usassem o capacete emprestado de Persinger, mas assegurou que as bobinas fossem ligadas apenas na metade dos participantes. Nem os participantes e nem os experimentadores sabiam quando os campos magnéticos estavam ligados e quando estavam desligados.

Os resultados foram desapontadores. Granqvist descobriu que os campos magnéticos não tinham absolutamente nenhum efeito.

Portanto o mistério continua, assim como nossa curiosidade: o que faz com que algumas crianças consigam ver espíritos? Por que nem toda criança consegue ver? Por que na maioria dos casos essas crianças deixam de ver espíritos quando alcançam certa idade? São respostas que nem a religião e nem a ciência podem nos dar com 100% de certeza. Só Deus sabe!

Fonte:https://neoateismodelirante.blogspot.com/2018/12/criancas-que-enxergam-espiritos.html

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Comunicação com Espíritos pode ser desenvolvida com estudo e dedicação





Medo e curiosidade se misturam quando o assunto é o contato do homem com o mundo dos mortos. Enquanto diversas religiões têm explicações sobre o fenômeno, a ciência ainda tenta desvendar as causas e os efeitos dessa experiência.


Você já sentiu que estava sendo observado, mas, quando se virou para ver quem era, ninguém estava lá? Ouviu alguém dizer o seu nome sem haver ninguém por perto? Teve a impressão de ter sentido a presença de alguém quando estava sozinho em casa? Pode até ser que essas situações não tenham sido nada, mas pode ser também que espíritos estejam tentando se comunicar com você. Pelo menos é o que acreditam os médiuns, pessoas que desenvolveram a habilidade de se conectar, de uma forma ou de outra, com o mundo dos mortos. Segundo eles, sentir essas manifestações de vez em quando é comum, pois todos temos a capacidade de estabelecer esse contato. Decidir trabalhar ou não essa habilidade aparentemente inerente ao ser humano é uma escolha — e os caminhos, não necessariamente, precisam passar por alguma religião.


Ainda que o tema cause certo medo, é fato que o assunto desperta também uma boa dose de curiosidade. Adriana Noviski, autora do recém-lançado Na sala ao lado — Os mundos invisíveis e seus segredos (Editora Évora), é um dos exemplos de como a busca por informação é capaz de mudar paradigmas — e o modo como se encara a vida. Sem nem saber do que se tratava e, a convite de uma amiga, ela resolveu participar de um curso de cura espiritual. “Fui fazer quase que por intuição e descobri que era médium”, completa. A vivência e o trabalho voluntário posterior às aulas a inspiraram a contar as histórias que viu, por meio da personagem fictícia Amanda.


O atendimento a pacientes a deixou impressionada. “Sempre tive muita intuição, mas achava que era só isso”, comenta. “Existe uma diferença entre intuição e mediunidade. A mediunidade é conseguir ver algo a mais.” Sonhos premonitórios, vultos e mesmo percepções que vinham como flashes sobre problemas de pessoas próximas foram, segundo Noviski, o ponto de partida para que ela procurasse se aprofundar no tema. “Quis escrever o livro para encorajar outras pessoas, mostrar que é natural, porque já fui muito ridicularizada por isso.”


Um dos fundadores do Programa de Saúde e Espiritualidade do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) e professor titular do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Alexander Moreira Almeida explica que, para fins de estudo, a mediunidade é definida como “uma experiência em que um indivíduo alega estar em comunicação com ou sob a influência de uma pessoa falecida ou de um outro ser não material”.


Depois de sofrer com problemas de saúde e "crises de loucura", Maria Liosmira encontrou a cura em um terreiro

O tema, inclusive, é familiar a todos nós — uma vez que está presente na base de grande parte das religiões. Como exemplos, Almeida cita Moisés e os profetas recebendo mensagens de Deus e dos anjos, Maomé recebendo mensagens do anjo Gabriel na composição do Corão, os oráculos gregos, os dons do Espírito Santo nas comunidades cristãs primitivas, bem como entre os católicos carismáticos e protestantes pentecostais. “Deve-se destacar que, especialmente no Brasil, nossas origens indígenas e africanas estão também fortemente permeadas por crenças e vivências ligadas à mediunidade”, completa. “Sendo assim, é uma experiência humana que precisa ser mais bem investigada.”


Sob as lentes da ciência
Há mais de um século, pesquisadores tentam entender do que se trata o fenômeno da mediunidade. O interesse nesse tipo de estudo, explica o psiquiatra, teve seu primeiro pico entre os séculos 19 e 20. Nos últimos anos, o tema parece ter voltado à tona. As experiências mediúnicas têm sido investigadas a fundo por pesquisadores há mais de 100 anos. Houve um grande interesse no tema na transição dos séculos 19 e 20 e,recentemente, houve uma retomada do interesse. Entre as principais hipóteses, estão fraude, doença mental, manifestações do inconsciente do médium, percepção extrassensorial (telepatia e clarividência) e sobrevivência da consciência/personalidade depois da morte corporal.


Desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) em 2013, o trabalho “Neuroimagem e mediunidade: uma promissora linha de pesquisa”, de Julio Peres e Andrew Newberg, usava recursos da neuroimagem para investigar a mediunidade. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que “regiões e sistemas cerebrais mediam os diferentes aspectos da experiência religiosa”, descartando, assim, a teoria ponto de Deus — que postulava um local no cérebro como responsável pela experiência com o divino. Os estudos sugeriram ainda que há uma maior atividade do córtex frontal e pré-frontal (áreas responsáveis pela motricidade voluntária) durante experiências religiosas. Outros achados incluem “um aumento da atividade nas redes atencionais relacionadas ao pensamento reflexivo durante tais experiências”. Os lobos frontal e parietal, segundo alguns levantamentos, são as áreas do cérebro correlacionadas com elementos psicológicos e cognitivos específicos dessas vivências.


Falando em investigação, para os cientistas, a existência de comunicação entre vivos e mortos não é o foco das pesquisas científicas. Para eles, o que importa mesmo é saber qual interpretação a pessoa que vivencia a experiência atribui a ela. Contudo, os estudos demonstram curiosidade em saber o que se passa no cérebro de um médium incorporado, apesar de as pesquisas sobre o assunto ainda serem esparsas. “Em linhas gerais, os resultados demonstram que as experiências espirituais como a mediunidade não estão ligadas a apenas uma região, mas a um complexo padrão de ativação de diversas áreas cerebrais”, afirma Alexander Moreira Almeida.


Com o psicólogo Julio Peres e Andrew Newberg, neurocientista norte-americano pioneiro no estudo neurológico de experiências religiosas e espirituais (conhecido como neuroteologia), Almeida participou de uma pesquisa que buscou descobrir as diferenças de funcionamento do cérebro de médiuns quando eles psicografavam em relação a quando escreviam um texto fora do estado de transe. O estudo, feito na Universidade da Pensilvânia (EUA), usou tomografias para comparar os resultados. “Eles mostraram que os textos psicografados eram mais complexos do que os escritos em estado normal de consciência”, resume. “Apesar disso, entre os médiuns mais experientes, ao contrário do que seria esperado, durante a psicografia, houve menor ativação de várias áreas cerebrais ligadas à construção do discurso e ao pensamento mais elaborado.”


A investigação neurocientífica de experiências espirituais abrange, ainda, a própria saúde mental dos médiuns, uma vez que pode existir a possibilidade de essa faculdade ser, na realidade, causa ou consequência de doenças mentais. Para os médiuns, uma boa notícia: de acordo com o psiquiatra, estudos recentes indicam que eles “possuem boa saúde mental e que essas experiências podem estar associadas a bons níveis de ajustamento social”.


Maria Liosmira Rodrigues dos Santos, 49 anos, passou por várias consultas até descobrir a razão pela qual acordava, sem explicação aparente, em qualquer lugar, menos na própria cama. Quando ainda era adolescente, por volta dos 19 anos, era comum que dormisse em casa e acordasse, por exemplo, no meio do mato. Durante os “acessos de loucura”, como ela define, sintomas como alucinações (via seres andando em telhados), gritos e pessoas que chamavam seu nome eram comuns. “Claro que o diagnóstico era sempre loucura”, resume a costureira e comerciante. Esquizofrenia e transtorno dissociativo de personalidade (mais conhecido como dupla personalidade) eram resultados frequentes nos veredictos dos médicos.


Se a saúde não está bem, não é somente o corpo que reclama: para Maria Liosmira, a mediunidade também se manifesta nessas ocasiões, seja com dores nas pernas, seja com fobias e dores de cabeça inexplicáveis, como no caso dela. “Depois de seis meses de consultas e exames, fui ser curada em um terreiro”, relembra. Quando se mudou para o Maranhão, ela encontrou, no município de Caxias, um povoado chamado Narazé do Bruno, um terreiro de terecó. A religião tem raízes afro-brasileiras e é mais popular em Codó, cidade maranhense a 300km de São Luís. Desde então, Maria Liosmira é mais conhecida pela alcunha de Dalila de Légua.


A linha adotada pela crença de Dalila de Légua é curadora, ou seja, se vale da chamada cura espiritual. Semelhante à umbanda, misturou-se a elementos do catolicismo, aos ancestrais indígenas e à encantaria. “Todo e qualquer culto afro, ou se procura por amor ou pela dor”, opina. Pelo amor seriam os curiosos, “que acham bonito”. A dor, para ela, é o caminho que mais leva à espiritualidade. “Não é uma coisa que se escolha, mas é possível desenvolver em qualquer religião”, resume. “Tem coisas na vida que não dá para se explicar. Somente depois que se vê o resultado é que se vai encontrar explicação. A questão é que, até hoje, nunca mais na minha vida acordei em mato, na rua. Nunca mais me perdi sem me encontrar. Reencontrei o sentido da vida.”


No espiritismo

De acordo com O Livro dos médiuns, de Allan Kardec, há oito principais tipos de médiuns:
Médiuns de efeitos físicos: aptos a produzir fenômenos materiais, como os movimentos dos corpos inertes, os ruídos etc.;

Médiuns sensitivos ou impressionáveis: pessoas capazes de sentir a presença dos espíritos por uma vaga impressão, uma espécie de arrepio que elas mesmas não sabem o que é;
Médiuns audientes: são os que ouvem a voz dos espíritos (mas não necessariamente transmitem o que ouvem);

Médiuns falantes: nessa modalidade, os espíritos agem sobre os órgãos vocais para verbalizar mensagens. Em geral, a pessoa se exprime “sem ter consciência do que diz e quase sempre tratando de assuntos estranhos às suas preocupações habituais, fora de seus conhecimentos e mesmo do alcance de sua inteligência”;

Médiuns videntes: são aqueles dotados da faculdade de ver os espíritos;

Médiuns sonâmbulos: para os espíritas, esse fenômeno é considerado como uma variedade da faculdade mediúnica. “Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os espíritos e os descrevem com a mesma precisão dos médiuns videntes”, segundo o livro;

Médiuns curadores: têm o dom de curar por simples toques, pelo olhar ou mesmo por um gesto, sem nenhuma medicação;

Médiuns pneumatógrafos: são aqueles com aptidão para obter a escrita direta.


Fonte: O Livro dos médiuns, de Allan Kardec.


Na umbanda

A mediunidade é expressa de várias. Veja algumas modalidades mais comuns:
Intuição: por meio do pensamento, o médium recebe informações, conselhos ou mensagens dos espíritos;

Incorporação: acontece quando a vibração da entidade se sintoniza com a do médium. Pode ser total ou parcial; ou seja, a pessoa pode ou não se recordar do que aconteceu durante o processo;

Audição: o médium seria capaz de, literalmente, ouvir os espíritos;

Vidência: permite ao médium visualizar as entidades;

Clarividência: permite ao médium visualizar fatos do passado e/ou do futuro. Acredita-se que ele seja capaz de tomar conhecimento da vida em outros planos espirituais, bem como ver os corpos astrais e mentais das pessoas;

Transporte: acontece quando o espírito deixa o corpo para “dar uma volta”, ou seja, é capacidade de visitar outros lugares espiritualmente. Pode ser voluntário ou involuntário;

Desdobramento: quando o espírito do médium sai de seu corpo, vai a outro local e fica visível a outras pessoas;

Psicografia: acontece quando o médium recebe informações dos espíritos por meio da escrita.


Paulo Henrique Wedderhoff, coordenador do grupo de exercícios mediúnicos, um módulo do curso de estudos da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), diz que o caminho para desenvolver a mediunidade ao máximo leva, em média, cinco anos. Até lá, é possível perceber-se médium nas pequenas coisas, até mesmo quando se compartilha conhecimento. “Se você lê um livro que o impactou e divide esse conteúdo com alguém, você está mediando um conhecimento que veio de outro espírito que não é o seu”, exemplifica. “A mediunidade é muito extensa e não se limita à troca do polisistema cultural, espiritual e corporal.”



Para Ruy Meireles, do Centro Espirita Paz e Amor, a mediunidade é uma grande oportunidade de aprendizado

Para os espíritas, a mediunidade seria uma característica do ser. Uma vez que todos teríamos espírito, logo, todos seríamos médiuns. Mais que um dom, seria uma habilidade — que, como todas as outras, precisa ser estimulada e treinada até a perfeição. O objetivo da mediunidade, segundo Wedderhoff, é acessar pensamentos que estão nas “redes mentais”, algo como uma internet universal unindo encarnados de desencarnados. “Por isso a frase ‘orai e vigiai’. Não é para ficar com medo, mas para pensar no que se diz. No banco das ideias, o que manda é a qualidade do pensamento, que determina a qualidade do que se acessa.”


No espiritismo, Wedderhoff explica que o conceito de incorporação é um pouco diferente do que prega o senso comum. Segundo o religioso, o médium jamais se ausenta do próprio corpo. Seria algo como tradução simultânea, com a diferença de que, no processo mediúnico, o espírito emite um pensamento, com base em dados do seu acervo cognitivo e que recebe repassa as informações de acordo com suas habilidades. “Você (o médium) é titular de suas decisões. Se o espírito fala algo que você não concorda, você pode não passar isso para a frente”, reforça.


Antes de se render ao espiritismo, Ruy Barbosa Meireles, 64 anos, era católico de berço e cético a respeito das questões do além. Os velhos questionamentos — para onde vamos? De onde viemos? — pipocavam em sua mente. O aposentado, então, resolveu tirar as dúvidas com o padre, mas as repostas pareciam incompletas. Foi quando, há 25 anos, um amigo emprestou a ele o Livro dos Espíritos, obra fundadora da Doutrina Espírita, escrito por Allan Kardec (pseudônimo do educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail).


Hoje, Ruy comanda o Centro Espírita Paz, Amor e Caridade, na cidade goiana de Luziânia. O caminho até se tornar médium foi longo e permeado por anos de estudo e prática. Assim que adotou a doutrina, começou um curso de um ano e meio para iniciar o desenvolvimento da habilidade: seis meses exclusivamente focados na teoria e o restante em uma mistura de conhecimento e prática. “Foi aí que descobri que tinha sensibilidade mediúnica”, completa. “Sentia coisas, escutava barulhos e sentia presenças que não estavam ao meu lado, que se manifestavam como vultos.”


Antes de saber como essa habilidade funcionava, Ruy ignorava sinais que chama de “fatores mediúnicos”. A sensação de estar sendo observado (sem, de fato, ter alguém olhando) é um dos exemplos de que a sensibilidade para o mundo espiritual pode estar aflorada. “A mediunidade é uma faculdade orgânica do ser humano”, justifica. Como um motorista prestes a tirar a habilitação, além das palestras explicativas, quem quer evoluir tem na prática algo essencial para desenvolver a habilidade de se comunicar com o “outro lado.”


Basicamente, Ruy descreve esse processo como uma exposição aos objetos de estudo. Em uma sala, o médium responsável por conduzir a aula incorpora espíritos protetores, que irão garantir que tudo corra bem. Os alunos se concentram, esquecem o mundo exterior e são conduzidos a um estado quase meditativo. Os espíritos presentes, então, se aproximam dos alunos, para que saibam qual é a sensação de estar próximo a uma entidade. “Nesse contato, sinto um arrepio gostoso e, às vezes, desconfortável”, descreve. “É um bem-estar, uma alegria.” A última etapa (que demora anos até ser alcançada) é a incorporação propriamente dita.


Durante todo o processo, é crucial que a pessoa esteja tranquila e confiante. A aproximação do espírito, de acordo com Ruy, é sutil. “Não pense que é como ser atropelado por um ônibus”, compara. Além de incorporar entidades, ele também psicografa mensagens, tem vidência (capacidade de captar lampejos e impressões do que se passa no plano astral) e passa pelo processos de desdobramento (quando o espírito sai do corpo “hospedeiro” e, literalmente, passeia por outros locais). “A mediunidade é a grande oportunidade para aprender”, analisa. “Se incorporo um irmão sofredor, que passou por dificuldades, isso serve como exemplo para mim. Algo como: ‘Não faça isso, veja no que deu’.”


A troca de espíritos

Na umbanda, acredita-se que as entidades se apresentem sob a forma fluidílica de caboclos, pretos velhos, crianças e exus. Quem explica é Pedro Miranda, presidente da União Espiritista de Umbanda do Brasil (Ueub). Segundo Miranda, cada uma dessas formas de apresentação tem uma finalidade, que vão desde os chamados passes magnéticos (transposição de energia para o corpo físico do paciente), à cura espiritual. Quando incorporado por uma dessas classes de entidades, o médium, segundo a crença umbandista, “divide” o espaço do corpo para que o espírito o use como ferramenta para ajudar quem precisa.


Aristóteles Talaguibonan Freitas Arruda, 33 anos, é um sacerdote da umbanda. O advogado conta que sua trajetória rumo ao desenvolvimento espiritual começou ainda criança. Aos 4 anos, ele já acompanhava os pais nos cultos. Por volta dos 8, os sinais de que era um médium de incorporação começaram a surgir. “Quando eu participava dos cultos, sentia palpitação, uma sensação de arrepio, até que entrei no estágio de transe”, descreve. Por ter começado tão jovem, Talaguibonan (seu nome espiritual) associa a mediunidade à discriminação. A discriminação sofrida na escola, para ele, ainda é um quesito marcante no que diz respeito à própria espiritualidade. “Passei por preconceito por conta da minha opção religiosa, que nem foi bem uma opção”, conta.


As guias (colares feitos com contas coloridas que fazem parte do uniforme dos médiuns) eram motivo de chacota, assim como as roupas brancas. Mesmo na faculdade, Talaguibonan conta que era excluído, por puro desconhecimento. “Eu era o macumbeirinho, o bruxo, qualquer coisa, menos religioso.” De qualquer forma, o advogado conseguiu prosseguir com sua missão espiritual. Hoje, pai de santo (cargo de alta importância no terreiro), não se ressente. Prefere tratar do tema como um aprendizado. “Ninguém ama o desconhecido, mas ele causa interesse, curiosidade. Faz com que as pessoas busquem se conhecer.”


Na espiritualidade, Talaguibonan conta ter encontrado seu canal para se religar ao sagrado. Por meio da mediunidade, ele diz ter acesso ao Deus que acredita. “É algo que me acalenta. Me considero um escolhido, um privilegiado.” Dependendo da entidade que recebe, ele conta que a sensação muda. Em linhas gerais, há um “apagão”: quando tudo termina, é como se nada tivesse acontecido. Algumas entidades, contudo, consomem grandes quantidades de bebida alcoólica e/ou tabaco, substâncias que causam uma certa rebordosa no médium no momento seguinte à incorporação. “Não fico bêbado, mas sinto a indisposição do álcool”, descreve.


A mediunidade, de acordo com Pedro Miranda, presidente da Ueub, é genérica e extensiva a todos os campos de entendimento. Na umbanda, ela é chamada de incorporação, embora o termo seja impróprio, na visão do religioso. “O espírito não entra no corpo. O guia vibra pelo nosso sistema nervoso, tocando nessas células, o que chamamos de desenvolvimento”, justifica. “As células vão se adaptando àquela vibração, até que se possam fazer a ligação que chamamos de incorporação.” Além dessa modalidade, há a mediunidade de audiência, visão e desdobramento astral. “Ela tem várias formas de apresentação, mas não há mistérios. A limitação da mente humana é que, às vezes, coloca mistério.”


Grande parte das entidades da umbanda já pisaram em terra firme e tiveram experiências no corpo físico. Desencarnados, foram preparados para trazer a quem ficou um pouco da experiência que tiveram e orientar a condução da vida de quem está na Terra. O objetivo do médium é o “trabalho”, termo que se refere ao ato de retribuir a habilidade, considerada uma dádiva dos seres humanos. “As entidades são portadoras de mensagens, não são nossas propriedades”, reforça. “Elas vêm para esclarecer, ajudar e curar aqueles que necessitam de auxílio espiritual.”


Ainda de acordo com o umbandista Pedro Miranda, todos temos uma vibração específica. Algumas se encaixam com o espiritismo, outras, com o catolicismo, e assim por diante. Fábio Araújo, 44 anos, vibra na faixa da umbanda desde cedo. Atualmente, ele se considera um sacerdote da religião. Desde os 12, incorpora entidades e trabalha ativamente em um terreiro desde então. “Nessa idade, você começa a aprender a viver, a saber o que é certo e errado. Ser médium me deu um rumo, uma direção.”


Filho de pais enérgicos, Fábio via na espiritualidade um ponto de apoio emocional que não encontrava dentro de casa. “Poucas pessoas que conheci na juventude estão vivas hoje. Muitas foram assassinadas, porque mexiam com coisas ilícitas”, comenta. “Tivemos uma adolescência muito complicada, sem aquele acompanhamento de pai e mãe. A espiritualidade foi o que me deu esse direcionamento.”



Adaíldo diz que o candomblé manifesta "a força do amor"

Quando está incorporado, Fábio não sente nada. Segundo ele, é como acordar de um sono pesado. Antes da entidade se aproximar, contudo, há uma série de “sintomas”. Os médiuns, primeiro, passam a mentalizar aquilo que buscam, como na meditação. Depois, a entidade “baixa”, no jargão da umbanda. Muitas vezes, a incorporação vem de uma vez, porém, na maioria dos casos, é resultado de um longo processo. “Cada ser humano tem a sua e ela aflora. São caminhos que se deve escolher.”


Confessionário da alma
Presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira explica que, diferente da umbanda, no candomblé há a incorporação de divindades da natureza, conhecidas como orixás, os deuses supremos — ou santos, no sincretismo com o catolicismo. Enquanto na umbanda as entidades (encarnadas ou desencarnadas) descem à Terra para atender a uma pessoa, no candomblé, o orixá descarrega o local (como uma limpeza espiritual). “Ele está acima das entidades. Oxalá, por exemplo, é a representação de Deus, ou seja, são as bênçãos maiores.”


Incorporar, contudo, não é uma finalidade na religião. Cada um tem um dom específico: alguns, para a incorporação de entidades voltadas para a ajuda social, como os umbandistas. Outros, para a incorporação de orixás. Há ainda os que não incorporem nem um nem outro. “O processo não se dá somente porque você vai ao terreiro”, reforça Rafael Moreira. “Cada ser humano tem sua missão na Terra, em qualquer crença.” Médiuns antigos teriam mais capacidade para se manterem conscientes ao longo do processo. “É como se fosse um confessionário”, compara. “Por mais que a pessoa veja e escute o que está acontecendo, não pode falar. Quem fala por ela é a entidade.”


No candomblé, a mediunidade funciona como uma meritocracia misteriosa: a decisão sobre quem será agraciado com o dom é dos orixás. “Sempre falamos que alguns vêm para a religião por vaidade, outros pela ajuda social, e outros porque não tem jeito: vão para um lado e para o outro, mas as entidades o trazem.” Para ser um bom médium, contudo, não basta ter essa faculdade ou estudar bastante. É preciso estar de bem não apenas com a própria espiritualidade, mas em todos os aspectos da vida. “Uma pessoa, para sair de si, tem que se entregar à incorporação.”


“Horrível!”. É assim que Adaíldo Lopes dos Santos, 47 anos, define sua primeira experiência de incorporação. Ele considera o início de sua história com o candomblé “engraçada”. Há 30 anos, o assessor técnico da Secretaria de Defesa da Mulher e da Igualdade Racial teve leucemia e nada parecia dar certo. Evangélico, ele superou seus preconceitos e resolveu conhecer um culto da umbanda. Na primeira vez que pisou no terreiro, incorporou o caboclo Sete Flechas. Lá, aprendeu a única cura bem-sucedida, segundo ele. “Não era uma doença, era só uma cobrança de santo”, justifica. Cobrança de santo, de acordo com o religioso, significa uma oportunidade de se encontrar no mundo dos orixás, como se as entidades o estivessem chamando.


Antes de acabar no terreiro, o plano inicial era ir para uma vigília evangélica (reuniões de oração, louvor e pesquisa bíblica). Com a mudança de planos, Adaíldo colocou a Bíblia debaixo do braço e foi, rumo ao desconhecido. “Não estava com medo. Estava, na realidade, observando o que acontecia e criticando por dentro.” O servidor público tomou coragem por lembrar as vezes que assistiu, escondido, a irmã, umbandista de longa data, praticar os rituais. “Nesse dia, eu estava indo para o culto, escutei o tambor e o segui”, relembra.


Adaíldo não achou a sensação de incorporar muito agradável da primeira vez. “Parece que eu tinha tomado um litro de cachaça. A minha cabeça rodava o tempo todo e o chão balançava comigo.” Depois disso, ele apagou. Não se lembra de nada do que foi dito pelas entidades, só sabe o que lhe contaram. Hoje, é sacerdote do candomblé e comanda um terreiro em Luziânia (GO). Para ele, a mediunidade se desenvolve de várias formas, mas, principalmente, no respeito ao próximo. “Quando eu era evangélico e chegava em uma casa de candomblé, não respeitava aquela pessoa. Tudo o que eles estavam fazendo, para mim, era em adoração ao satanismo”, analisa. “Depois que você recebe essa energia, descobre que há uma força muito além de tudo isso, que é a força do amor, do respeito.”


Contar a novidade para a família evangélica foi um desafio. Quando aderiu à religião, aos 17 anos, até tomar coragem para falar, Adaíldo aproveitava quando faltava luz para acender velas e oferecê-las para as entidades. “Quando eles descobriram, fui criticado por uns, enquanto outros tiraram o chapéu”, descreve. Adaíldo tem irmãos pastores e irmãs missionárias, mas garante que, quando todo mundo se reúne, o assunto religião não gera polêmica. “Nós nos respeitamos como família.”


Estudos espirituais

Não é de hoje que a ciência busca entender como funcionam algumas manifestações religiosas. A mediunidade não é exceção. Veja alguns exemplos de trabalhos importantes que tentaram desvendar um pouco do desconhecido:

No estudo Fenomenologia das Experiências Mediúnicas, Perfil e Psicopatologia de Médiuns Espíritas, de 2004, o psiquiatra Alexander Moreira de Almeida estudou 115 médiuns com o objetivo de definir o perfil sociodemográfico e a saúde mental dessas pessoas, bem como a fenomenologia e o histórico de suas experiências mediúnicas. Os participantes responderam vários questionários — como o Self-Report Psychiatric Screening Questionnaire (SRQ), instrumentos planejados para triar transtornos mentais. A conclusão foi que “os médiuns estudados evidenciaram alto nível socioeducacional, baixa prevalência de transtornos psiquiátricos menores e razoável adequação social”;

Em sua tese de doutorado, pela Unicamp, a historiadora Eliane Moura da Silva analisou a relação entre psiquiatria, espiritismo e doenças mentais, ou “o processo de construção da representação da mediunidade enquanto loucura”. O foco do estudo foi o período entre 1900 e 1950, quando essas experiências passaram a ser interpretadas pelos psiquiatras como causa e/ou manifestação de doenças mentais;

Há também estudos recentes investigando a origem da mediunidade, buscando desvendar se médiuns podem realmente obter informações que não estão disponíveis a eles pelas vias convencionais. O vídeo Pesquisa sobre cartas psicografadas por Chico Xavier (disponível no YouTube), foi feito pelo Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da UFJF (Nupes) em uma pesquisa para a USP, em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora, o tema é abordado a partir do contexto histórico da mediunidade.
Fontes: Centro Espírita Urubatan, SaúdePlena e Filosofia Imortal