segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Ningyos: Sereias do Japão?


Sereias são conhecidas como Ningyos no Japão, porém elas são MUITO diferente das sereias das lendas ocidentais, as quais são conhecidas por todos. Diferentes das sereias das lendas Atlânticas e Mediterrâneas, as Ningyos, que são das lendas do Pacífico e dos mares do Japão, são bem medonhas, assemelhando-se mais a um pesadelo surreal do que com uma mulher sedutora.

As Ningyos se parecem mais com peixes do que com humanos, com características que variam muito, no geral apenas como sendo bem feias, tendo um rosto distorcido de peixe com características humanas, o torso de humano, calda de peixe, barbatanas entre os dedos ossudos e unhas afiadas. Elas podem atingir o tamanho de uma criança humana até o tamanho de uma foca adulta. Não podem falar, mas emitem sons parecidos com os de pássaros ou de uma flauta.


Sereias ocidentais, metade peixe e metade mulher, bem sedutoras assim como as lendas europeias e americanas, não são totalmente impossíveis de serem vistas nos mares do Japão. Particularmente após o Período Edo e da entrada do Japão para o Oeste, mais e mais sereias do tipo do mar Atlântico têm sido vistas nos mares do Japão. Porém, a grande maioria das sereias vistas no Japão são bem feias e monstruosas.

Outra diferença entre as Ningyos e as sereias convencionais é que elas não tem interesse nenhum em seduzir e afogar homens. Diz-se que quem comer a carne de uma Ningyo torna-se imortal, e que sua pele evita o envelhecimento. Mesmo com a possibilidade de se tornar imortal, as pessoas normalmente evitam as Ningyos, por que elas são muito difíceis de serem capturadas, e costumam lançar uma maldição á quem tentar capturá-las. Pode acontecer de uma cidade inteira ser devastada por ondas gigantes, ou destruída por um terremoto por causa de apenas um pescador que tentar capturar uma delas.



Fonte de pesquisa: http://yokai.com/ningyo/
https://tavernadascebolas.blogspot.com/2015/01/ningyos-sereias-do-japao.html

Oni - Folclore Japonês



Os Oni (鬼 ou おに em japonês, que significa "ogro", "demônio") são grandes ícones do folclore japonês. São criaturas medonhas, maiores que um ser humano normal, ás vezes muito maiores, que habitam montanhas remotas, cavernas, ilhas, fortalezas abandonadas, e o Inferno. São onívoros, mas na maioria das vezes se alimentam do gado, de seres humanos e álcool.

Cada Oni tem sua aparência específica, que é muito variada, mas geralmente são descritos possuindo pele azul ou vermelha, cabelos revoltos, dois ou mais chifres, e grandes presas. Outras variações existem em cores diferentes e com diferentes números de chifres, olhos, ou dedos. Vestem tangas feitas de couro de animais grandes. Todos os Oni possuem extrema força e estrutura, e muitos deles são poderosos feiticeiros. São demônios ferozes, causadores de desastres, disseminadores de doenças, e carrascos das almas condenadas ao Inferno.

Os Oni são gerados quando seres humanos extremamente cruéis morrem, e acabam em uma das várias camadas do Inferno budista, conforme o tempo passa, eles vão se transformando em Oni. Se tornam os mais terríveis e brutais servos do Grande Senhor Enma, o governante do Inferno, empunhando grandes clavas de ferro com as quais eles esmagam e destroem os seres humanos, somente para sua própria diversão. O trabalho dos Oni no inferno é submeter punições horríveis ás pessoas más condenadas ao inferno (as que não são más o bastante para se transformar em demônios), arrancando a pele, esmagando os ossos, e outros tormentos horríveis de se descrever. O Inferno está cheio dos Oni, eles formam o exército dos grandes generais do submundo.

Ocasionalmente, quando um ser humano é tão terrivelmente perverso, a ponto de sua alma não ser mais capaz de alcançar nenhum tipo de redenção, ele se transforma em um Oni, mesmo ainda estando vivo, e permanece na Terra aterrorizando os demais seres viventes. Esses seres humanos transformados em Oni são os mais recorrentes nas lendas e histórias, e os que mais apresentam perigo á humanidade.

Originalmente, todos os espíritos, fantasmas, e monstros eram considerados "Oni". A raiz desse termo é uma palavra que significa "escondido", "oculto", e era escrito com um caractere chinês que significa "fantasma". Nos tempos antigos do Japão, antes dos espíritos serem especificamente catalogados como são hoje, "Oni" podia se referir a qualquer criatura sobrenatural, como fantasmas, deuses obscuros, youkais grandes e assustadores, até mesmo alguns humanos particularmente cruéis e violentos. 

Na medida que os séculos moldaram a língua japonesa, as definições que conhecemos hoje para os diversos tipos de monstros gradualmente chegaram a ser o que conhecemos atualmente. Hoje em dia, o termo Oni geralmente se refere apenas a uma categoria específica de demônios de gênero masculino, o qual foi descrito no post. Demônios do gênero feminino geralmente são conhecidos pelo nome "kijo".




https://tavernadascebolas.blogspot.com/2017/05/oni-folclore-japones.html

A História de Tangalimlibo - Folclore da Tribo Xhosa, África do Sul?




Era uma vez um homem que tinha duas esposas. Com uma delas ele não tinha filho algum. Justo por isso, ela sofria muito.

Um dia, um pássaro voou até ela e deu-lhe algumas pequenas pelotas. Disse que ela deveria comê-las, uma a uma, sempre antes de cada refeição, e que, depois disso, ela daria à luz uma criança.

A mulher não cabia em si de contentamento, e ofereceu ao pássaro alguns grãos de milho-miúdo. Mas o pássaro recusou a oferta.

A mulher, em seguida, lhe ofereceu sua isidanga, que é a faixa ornamental que as mulheres usam no peito, mas o pássaro disse que aquilo não teria nenhuma serventia para ele, e continuou sem aceitar nada. A mulher, então, pegou algumas pedrinhas, arrumou-as diante do pássaro, e ele, enfim, aproximou-se e pousou em suas mãos. Comeu e voou.

Depois disso, a mulher teve uma filha. Seu marido não ficou sabendo nada do que havia acontecido, porque nunca ia à casa da esposa. Ele não a amava até então, pela simples razão de que ela ainda não lhe tinha dado nenhum filho. Então, ela prometeu a si mesma:

- Eu manterei minha filha dentro de casa até que meu marido tenha vindo aqui. Ele certamente me amará, quando descobrir que eu lhe dei uma criança tão bonita.
E deu à filha o nome de Tangalimlibo.
A mulher continuou com seus afazeres. O homem ia com frequência à casa de sua outra esposa e nunca vinha visitar a mãe de Tangalimlibo. O tempo foi passando e, quando ele viu a filha pela primeira vez, ela já era uma jovem mulher. Ele ficou muito contente e disse:
- Minha querida esposa, você deveria ter-me contado antes!
O que o homem não sabia é que a moça nunca tinha posto os pés fora de casa durante o dia. Somente à noite ela se aventurava a sair, quando as pessoas não podiam vê-la. Por isso o segredo durou tanto!
O homem, depois de conhecer a filha, disse para sua esposa:
- Você deve preparar muita cerveja e convidar muitas pessoas para comemorarem comigo essa maravilha que me aconteceu!
A mulher concordou. Havia uma árvore grande em frente ao vilarejo e, no dia marcado para a festa, várias esteiras foram espalhadas sob ela. Aquele dia foi de muita felicidade e muita comemoração. Muitos homens vieram comemorar com eles, até o filho de um chefe, que se apaixonou por Tangalimlibo assim que a viu pela primeira vez.
Quando o jovem filho do chefe voltou para casa, enviou uma mensagem ao pai de Tangalimlibo, dizendo que ele deveria mandar a filha para ser sua esposa. O homem contou a novidade para todos os amigos. Aproveitou para dizer-lhes também que estivessem prontos para em breve o ajudarem a conduzir a filha até o chefe. Só então chamou a filha e contou a ela a boa-nova.
A festa do casamento foi verdadeiramente grande, e mataram muitos bois para as bodas. Tangalimlibo ganhou de seu pai um boi gordo e bonito. No auge da felicidade, ela deu seu próprio nome ao boi e ainda tirou um pedaço da sua própria roupa e deu ao boi para comê-la. Era um pacto!
Tangalimlibo era muito amada por seu marido; e era ainda uma mulher linda e habilidosa. Algum tempo depois de casada, teve um filho, mas continuava com aquele problema de nunca sair de casa durante o dia, por isso passou a ser chamada Sihamba Ngenyanga, que quer dizer "aquela que caminha ao luar".
Um belo dia, o marido de Tangalimlibo e os outros homens foram caçar bem longe. A esposa ficou na companhia do sogro, da sogra, e de uma menina que cuidava do bebê.
O sogro começou a repara nos hábitos da moça e da casa, e acabou por comentar.
- Por que ela não faz nada durante o dia?
O sogro, então, inventou que estava sedento, e mandou a moça que cuidava do bebê dizer a Tangalimlibo que ele ia morrer de sede naquela casa se não lhe dessem água fresca.
A mulher, imediatamente, enviou água ao seu sogro, mas ele derramou tudo no chão, dizendo:
- Só bebo água do rio!
Ela, então, disse:
- Mas eu nunca me atrevo a ir ao rio durante o dia!
O sogro continuou insistindo:
- Assim eu vou morrer de sede!
Tangalimlibo passou a mão na vasilha do leite, numa cabaça, e foi chorando até o rio. Quando ela mergulhou a cabaça na água, o pote escapuliu de sua mão. Rapidamente ela enfiou a vasilha do leite na água so rio, mas esta também escapou de suas mãos. Então, ela tentou pegar água com o manto e, desta vez, foi puxada para dentro d'água.
A menina que cuidava do bebê, ao perceber que Tangalimlibo não voltava do rio, saiu à sua procura. Não teve êxito algum e voltou correndo e dizendo:
- Não consegui encontrá-la! Eu sabia! Ela só estava acostumada a sair para buscar água de noite.
O sogro de Tangalimlibo dirigiu os bois rapidamente para o rio. Pegou o grande boi de pertencia à nora- e que até tinha o mesmo nome dela - e matou-o. Foi então lançando as carnes e as partes do boi no rio, dizendo:
- Leve isso em vez da minha criança. Leve isso em vez da minha criança.
E uma voz, por fim, respondeu:
- Vá até meu pai e minha mãe e diga a eles que fui levada pelo rio.
Naquela mesma noite, o pequeno bebê de Tangalimlibo chorou desesperadamente. Seu pai ainda não tinha voltado para casa. Sua avó tentou de tudo para fazê-lo parar de chorar, mas nada deu resultado. Então, ela deu a crianças para a menina que cuidava dela, e a moça ficou segurando a criança nos braços. Como o bebê não calava a boca de jeito nenhum, a moça foi até a beirada do rio, embalando o menino, e cantando para ele:
- "Ele chora, ele chora,
O filho de Sihamba Ngenyanga;
ele chora e não vai parar"

Com isso, a mãe do menino saiu de dentro do rio e cantou, lamentando:

"Ele chora, ele chora,
o filho da andarilha do luar.
Tudo foi planejado
por aqueles que
nem ouso nomear.
Ainda era de dia.
e ela foi obrigada a buscar água na bacia.
Tentou com a vasilha do leite,
que afundou.
Tentou com a cabaça,
que também afundou.
Tentou mais uma vez, com seu manto, e este também afundou e a levou...
Quanto pranto".

Ao final de cada verso, ela repetia seu nome, como um coro:
- A andarilha do luar... A andarilha do luar...
E ao findar da cantoria, ela pegou seu próprio filho no colo e colocou-o para mamar.
Quando a criança acabou de sugar e sugar, ela devolveu-o para a moça que cuidava dele, recomendando-lhe que levasse o menino para casa com o maior dos cuidados. Fez também a moça prometer que não contaria nada a ninguém, muito menos que ela tinha saído das águas. E ainda completou:
- Se perguntarem como o menino matou a fome, diga que deu a ele alguns grãos...
Isso se repetiu por muitos e muitos dias: todas as noites, a moça levava o menino até o rio, Tangalimlibo saía das águas, olhava ao redor, para certificar-se de que não havia mais ninguém por perto, amamentava seu próprio filho e dava sempre as mesmas ordens à moça.
Muito tempo depois, o marido de Tangalimlibo, finalmente, voltou da caçada. Os pais contaram a ele que a esposa tinha ido ao rio e nunca mais tinha voltado. O homem pediu então para ver o filho, e a criada veio com a criança. Quando ele perguntou o que estavam dando para o menino comer, e contaram a ele que o menino se alimentava de grãos, ele disse:
- Não pode ser! Tragam aqui esses grãos e deem a ele na minha frente, que eu quero ver...
A moça foi buscar os grãos e fez o que seu patrão pedia. O menino não comeu um grão sequer. Então, o pai da criança exigiu que a moça contasse a verdade: as idas noturnas ao rio e os encontros com Tangalimlibo, que saía das águas para acariciar e dar de mamar a seu bebê.
Emfim, eles combinaram uma maneira de salvar Tangalimlibo: quando ela saísse do rio para amamentar a criança, o marido, que estaria escondido entre os juncos, deveria agarrá-la e conduzi-la de volta para casa.
Foi longa a espera e longos os preparativos. Na noite marcada, o homem pegou o couro de um boi, cortou uma longa tira e amarrou, cortou uma longa tira, deu para os homens da aldeia, que tinham ido junto para ajudar, caso fosse necessário, dizendo que deveriam segurar com força e puxar ainda mais , se sentissem algo arrastando-os na direção contrária. Feito isso, esconderam-se entre os juncos e esperaram.
Tangalimlibo saiu das águas e olhou em volta, enquanto cantava sua música. Perguntou à moça se havia alguém mais por perto e, quando a moça disse que não, ela finalmente tomou seu filho nos braços.
Imediatamente, o marido saltou em cima dela, e abraçou-a bem apertado. Ela tentou se soltar, mas os homens da aldeia puxaram a faixa com toda a força do mundo. E ela foi sendo puxada e arrastada, arrastada e puxada. Mas inexplicavelmente, o rio vinha junto, bem atrás da moça, e suas águas logo tingiram-se de vermelho-sangue.
Quando finalmente chegaram perto da aldeia, os homens que estavam puxando a faixa viram a mulher, o rio, o sangue, e se assustaram. ENtão, soltaram a corda na mesma hora, e o rio regressou a seu lugar, levando Tangalimlibo com ele.
Nesse momento, o esposo foi chamado por uma voz, que vinha das águas, dizendo:
- Vá procurar meu pai e minha mãe e diga a eles que fui levada pelo rio.
O marido, imediatamente, chamou seu boi mais veloz e deu a seguinte ordem:
- Vá, meu boi veloz, vá. Leve essa mensagem par ao pai e para a mãe de Tangalimlibo!
E disse ao boi o que ele deveria repetir quando chegasse lá. O boi se pôs a mugir muito alto e nem saiu do lugar. O homem então chamou seu cachorro e disse:
- Vá você, meu cão fiel, vá. Leve esse recado para o pai e para a mãe de Tangalimlibo!
E disse o que o cão deveria dizer. Mas o cachorro se pôs a latir desesperadamente e também nem se mexeu.
Por fim, ele chamou o galo e disse:
- Vá, meu galo cantador. Vá e leve o recado para o pai e a mãe de Tangalimlido.
E o galo respondeu:
- É o que farei meu mestre.
E o patrão continuou:
- Então me diga, o que você vai contar a eles?
E o galo finalmente respondeu:
- Eu cantarei assim:
"Eu sou um galo que não pode ser morto,
Galo-ê-aluê-aluê
Eu vim por Tangalimlibo,
Galo-ê-aluê-aluê
Ela está morta,
Galo-ê-aluê-aluê
Ela mergulhou na água,
Por quem, é bom nem falar,
Galo-ê-aluê-aluê
O boi vinha avisar, mugiu e não saiu do lugar,
Galo-ê-aluê-aluê
O cão vinha avisar, latiu e não saiu do lugar,
Galo-ê-aluê-aluê
Agora, então, sou eu quem vai contar!"

O filho do chefe, satisfeito, disse:
- Assim está bem, meu galinho, agora vá!
E quando o galo estava seguindo seu caminho, foi visto por uns moços que estavam cuidando de uns bezerros.
Um deles chamou os outros correndo e disse:
- Venham logo, venham, meus amigos, olhem ali um galo para a nossa janta!
Então o galo se sacudiu , se aprumou todo e cantou. Quando chegou ao fim da canção, os rapazes disseram, maliciosamente:
- Cante novamente, nós ainda não escutamos bem!
Então o galo cantou de novo:
"Eu sou um galo que não pode ser morto,
Galo-ê-aluê-aluê
Eu vim por Tangalimlibo,
Galo-ê-aluê-aluê
Ela está morta,
Galo-ê-aluê-aluê
Ela mergulhou na água,
Por quem, é bom nem falar,
Galo-ê-aluê-aluê
O boi vinha avisar, mugiu e não saiu do lugar,
Galo-ê-aluê-aluê
O cão vinha avisar, latiu e não saiu do lugar,
Galo-ê-aluê-aluê
Agora, então, sou eu quem vai contar!"

Então os rapazes deixaram o galo seguir seu caminho.
Ele andou muito desde que partiu da casa de seu dono, em busca da aldeia dos pais de Tangalimlibo. E passou por diversos lugares, onde viu muitos homens sentados nas vilas. Numa de suas paradas para descansar, alguns homens notaram a sua presença e perguntaram:
- Mas de onde vem e para onde vai esse galo?
E se atiraram em cima da ave.
- Nós costumamos comer todos os galos que encontramos!
E perseguiram-no sem sossego:
- Venham, meninos, depressa! Vamos matá-lo!
Mas o galo começou a cantar sua canção. E aí alguém disse:
- Esperem, vamos ouvir o que ele tem a nos dizer!
Ao final, eles pediram:
- Cante novamente, nós não conseguimos ouvi-lo direito!
O galo concordou, com uma condição:
- Deem-me comida. Estou quase morto de fome!
Os homens mandaram os meninos buscar um pouco de milho-miúdo e deram ao galo. Depois de comer e se fartar, ele cantou de novo sua canção.
Foi o suficiente para os homens chegarem à conclusão:
- Vamos deixar que ele siga seu caminho!
Finalmente ele chegou à aldeia onde viviam os pais de Tangalimlibo e pôs-se a procurar a casa dos pais da moça. Quando a achou, transmitiu o recado, tal qual havia cantado todas as outras vezes.
Os pais da moça sabiam exatamente o que deveriam fazer quando recebessem aquele recado em forma de canção. A mãe de Tangalimlido era uma mulher habilidosa e sabia usar os chás, as ervas, os remédios. Na mesma hora, e disse para seu marido:
- Vamos até lá. Temos de levar conosco um boi gordo!
Nem é preciso dizer que logo estavam todos à beira do rio, na aldeia em que Tangalimlibo vivia com seu marido. Eles finalmente mataram o boi gordo, e a mãe da moça preparou as ervas, enquanto os outros iam colocando a carne do boi dentro da água. Houve um grande tremor, o rio se abriu e, de dentro dele, saiu Tangalimlibo.
E foi com imensa alegria que todos daquela aldeia receberam a moça de volta a seu lar.
E agora, deixem o galinho contar! Pra lá e pra cá! Cocorocó!!!




Sobre a Tribo Xhosa O povo Xhosa é um grupo étnico da África Austral. Vivem no sudeste da África do Sul, e nos dois últimos séculos, em todas as partes do sul e centro-sul do país. O povo Xhosa é dividido em várias tribos com heranças distintas, porém relacionadas. As principais tribos são o Mpondo, Mpondomise, Bomvana, Xesibe, e Thembu. Além disso, o Bhaca e Mfengu adotaram a língua Xhosa. O nome “Xhosa” vem de um líder lendário chamado Uxhosa. Há também uma teoria que, antes disso, o nome xhosa veio de uma palavra que significa “forte” ou “irritado” em algumas línguas San. Os Xhosa referem a si mesmos como Amaxhosa, e à sua língua como Isixhosa. Atualmente, cerca de 8 milhões de indivíduos Xhosa estão distribuídos em todo o país, e a língua Xhosa é o segundo idioma mais falado da África do Sul, depois do Zulu, o qual está diretamente relacionado.




Fonte:


SISTO, Celso. Mãe África: Mitos, Lendas, Fábulas e Contos. São Paulo: Editora Paulus, 2008.


Jengu - Folclore Africano?




Jengu é uma espécie de sereia que habita nos rios e mares de Camarões, país do Centro Oeste da África. Sua aparência varia muito, porém as pessoas que alegam ter visto uma Jengu dizem que é uma mulher linda, metade humana e metade peixe, de cabelo longo e cacheado, e com os dois dentes dianteiros da parte de cima separados. 

O plural de Jengu é “Miengu”, e elas são espíritos da água venerados pelo povo Sawa, grupo étnico de Camarões. Dizem que trazem fortuna para seus adoradores, são curandeiras e intermediadoras entre os humanos e os espíritos. 

Para os grupos étnicos de Camarões, o culto às Miengu é uma tradição e é inclusive considerado um rito de passagem de meninas para a idade adulta, onde as meninas vestem um vestido feito de folhas de samambaia e cumprem uma série de ações. Após essa cerimônia, as meninas passam a ser membros ativos do culto às Miengu.

Uma das cerimônias mais importantes hoje em dia se chama Ngondo, que é realizada na primeira quinzena de dezembro pelo povo Sawa nas margens do rio Wouri, localizado na cidade de Douala. Nessa cerimônia, um dos participantes entra na água com uma oferenda dentro do vaso sagrado, e fica debaixo d’água o máximo de tempo que conseguir, para se comunicar com seus ancestrais. Assim que emerge, traz previsões para o ano vindouro, contadas a ele pelas Miengu. Apesar de ser realizada pelo povo Sawa, a cerimônia Ngondo é composta por pessoas de vários grupos étnicos, pois também representa a união e o triunfo entre membros de diferentes tribos. A cerimônia consiste em três partes: a imersão do vaso sagrado (aquele que contém a oferenda), a eleição da Miss Ngondo, e a corrida de pirogue, que é um pastelzinho doce.

A tradição diz que toda Jengu protege seu povo, e os ajuda a manter seus rituais e cerimônias que são fonte de sabedoria, prosperidade, força, fertilidade, fraternidade, amor, que trazem boas colheitas e boas pescas.





Fonte:

https://tavernadascebolas.blogspot.com/2020/05/jengu-folclore-africano.html

MAX, Wilson Ken. Creatures from African Mythology. The Illustrationist. Inglaterra, 1 de janeiro de 2013. Disponível em: <https://theillustrationist.com/2013/01/01/creatures-form-african-mythology-jengu/>. Acesso em 12 de maio de 2020.


Amanda. Sacred Ngondo water festival in Cameroon where people enter into the water for one hour and return unwet. Africa Buzzfeed. 4 de Abril de 2020. Disponível em: <http://africabuzzfeed.com/sacred-ngondo-water-festival-in-cameroon/>. Acesso em 12 de maio de 2020.


Ninki Nanka - Criptozoologia?


Arte por Anne E. G. Nydam

De acordo com as histórias passadas de geração á geração, o Ninki Nanka é um monstro marinho que habita os pântanos dos países do Oeste da África, como Senegal e Gâmbia. De acordo com a lenda, o Ninki Nanka é um réptil gigante, de escamas que refletem a luz, com uma cabeça que lembra a de um cavalo com três chifres. Variações da lenda dizem que se parece com um dragão, e que tem a habilidade de cuspir fogo.


As pessoas que infortunadamente encontram essa criatura, se não morrem pelo seu ataque, acabam morrendo inexplicavelmente semanas depois. São poucos os que vêem a criatura e sobrevivem pra contar a história.


A história do Ninki Nanka se espalhou de tribo em tribo por várias regiões da África. Há uma canção chamada “Ninki Nanka” no álbum “Casamanse au clair de La Lune”, de 1984, do grupo musical senegalês chamado “Touré Kunda”.


No verão do ano de 2006, um grupo de pesquisadores ingleses do Centro de Zoologia Forteana (em inglés “Center for Fortean Zoology) foi para Gâmbia procurar pela criatura e recolher testemunhos de pessoas que afirmavam tê-lo visto. No final da expedição, o grupo não encontrou nenhuma prova concreta da existência do Ninki Nanka, porém levaram para a Inglaterra uma amostra de algo que acreditavam ser uma de suas escamas. Constataram que a “escama” não era um material biológico, podendo até mesmo ser apenas um pedaço de termoplástico celuloide, material no qual são feitos os rolos de filme.


Apesar de não terem sucesso ao procurar pelo Ninki Nanka, os pesquisadores ingleses afirmaram que ainda não há certeza se a lenda tem bases na realidade, ou se é totalmente folclórica, já que mesmo não tendo encontrado provas da existência da criatura, também não encontraram provas concretas de que não exista.




Fonte:

https://tavernadascebolas.blogspot.com/2020/07/ninki-nanka-criptozoologia.html

MAX, Wilson Ken. Creatures from African Mythology. The Illustrationist. Inglaterra, 4 de maio de 2013. Disponível em: <https://theillustrationist.com/2013/05/04/african-mythological-creatures-ninki-nanka-the-dragon/>. Acesso em 2 de julho de 2020.


TORRE, Inez. Here be Monsters: The Search for Africa’s Mythical Beasts. CNN World. Estados Unidos, 19 de dezembro de 2014. Disponível em: <https://edition.cnn.com/2014/12/19/africa/gallery/monsters-of-africa/index.html>. Acesso em 2 de julho de 2020.


Hunt for Gambia’s Mythical Dragon. BBC News. Inglaterra, 14 de julho de 2006. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/5180404.stm>. Acesso em 2 de julho de 2020.

A lenda de Kelpie, o cavalo d'água

Kelpie na mitologia céltica escocesa é uma espécie de cavalo que habita os lagos e rios da Escócia. Essa entidade sobrenatural pode ser encontrada também no folclore irlandês. 

Sua descrição pode variar conforme as lendas, por vezes descrito como branco, ou cinza, de pele macia e gelada, podendo também adotar uma forma humana. 

Muitos rios e lagos na Escócia tem alguma história relacionada com Kelpie, mas a mais extensiva que se conhece é a do Lago Ness, que tem seu primeiro registro no século 6.

A lenda de Kelpie tem também muitas variações pelo mundo, como a de Wihwin na América Central, a de bäckahäst na Escandinávia, e a de bunyip na Austrália.



A origem da crença em cavalos d'água malignos pode ter sido a partir de sacrifícios humanos feitos antigamente para acalmar os deuses da água, mas também servia como prática para assustar crianças a fim de mantê-las longe do perigo nas margens de rios e lagos, e prevenir mulheres jovens para tomarem cuidado com rapazes bonitos desconhecidos.

Em algumas histórias, Kelpie é conhecido como antropomórfico, ou seja, pode mudar sua forma física. Pode se transformar em uma bela mulher para seduzir e capturar homens, ou se transformar em um belo homem para seduzir e capturar moças. Porém, ele pode apresentar perigo principalmente á crianças quando está sob a forma de cavalo, pois costuma induzi-las a montá-lo e então as leva para dentro da água, onde as come.

Nas ilhas Órcades (Orkney em inglês), há menção de uma criatura semelhante chamada "Nuggle", que também tem a forma de um cavalo e vive debaixo d'água. 

Qualquer humano que montar essa criatura é levado para as profundezas do rio ou lago onde a criatura vive, e morre afogado. 

Nas Ilhas de Shetland, a nordeste das Ilhas Órcades, o cavalo d'água é conhecido como "Shoopiltie".Outras versões dessa criatura existem em outras nações célticas. 

No país de Gales há uma lenda de um outro espírito antropomórfico associado á água chamado "Ceffyl Dŵr", que também pode assumir a forma de um cavalo, ás vezes com asas, que pode capturar qualquer infortunado para montar, mergulhá-lo na água e o afogar. 

Na mitologia manesa também há um cavalo d'água conhecido no Gaélico Manês como "Cabbyl-Ushtey" que também é associado com uma outra criatura chamada "Glashtyn".



Fonte:https://tavernadascebolas.blogspot.com/2014/07/a-lenda-de-kelpie-o-cavalo-dagua.html

A terrível, monstruosa e abominável "Inquisição Protestante"


(Imagem do monge rebelado pregando as teses da inquisição protestante)

Revisionismo histórico é quando um bando de sem vergonhas tenta desesperadamente mudar aquilo que está consumado perante a história mundial, mediante truques baixos e uma nova literatura formada especificamente para este objetivo. Existem, por exemplo, revisionistas nazistas, que são os “historiadores” que tentam dizer hoje que o holocausto judeu nunca aconteceu, ou que, se aconteceu, não morreu quase ninguém. Um certo Porcão que detesta o povo israelita mantém este ponto de vista inescrupuloso, assim como outros dementes por todo o mundo, inclusive alguns de batina.

No caso do catolicismo, a tentativa consiste, primeiramente, em negar absolutamente tudo o que os livros de história, os livros escolares, os historiadores do passado, a opinião popular e acadêmica, enfim, o que todos afirmaram por séculos sobre a inquisição católica. Como eles estão desesperados, perdendo fieis até para a Seicho-No-Ie e para a Umbanda, decidiram revisar tudo o que já foi escrito até então sobre inquisição para “concluir” que ela nunca existiu, ou então que nunca torturou ninguém, ou que matou meia dúzia de gatos pingados. Ou seja: a mesma estratégia dos neo-nazistas.

Mas a apologética católica, mentirosa como sempre, não se contenta apenas em negar os horrores da inquisição real. Nos últimos anos, alguns lunáticos foram além, chegando até mesmo a inventar uma monstruosa e abominável “inquisição protestante”(!), essa sim uma inquisição de verdade, terrível, assombrosa, que matava um tantão de gente, e que por alguma razão misteriosa nunca constou nos livros de história, embora curiosamente pipoque de montão nos blogs católicos. É como se um nazista, não satisfeito em negar o holocausto nazista, ainda dissesse que o “verdadeiro” holocausto foi dos judeus matando milhões de nazistas...

Sem ter conta do senso do ridículo, os picaretas ainda conseguem iludir um punhado de zumbis bitolados que tem horror aos livros de história e que, em vez de lê-los, prefere ver videozinhos do padre Gargamel Paulo Ricardo ou do Paulo Porcão (ou pior ainda, ler o Fakenando Nascimento). Alguns chegam a descer mais ainda, ao ponto de se basear em artigos de um astronauta católico.

O que eles chamam de “inquisição protestante”, na verdade, jamais foi uma inquisição e muito menos tinha este nome. Trata-se de alguns eventos isolados sem nenhuma conexão entre si, que os vigaristas juntam em um artigo tosco e tentam relacionar todos eles a uma fantasmagórica e lendária “inquisição protestante”. De todos os casos citados, o que é sempre o mais referido em 99% das vezes é o da guerra dos camponeses, em que Lutero teria sido responsável pelo assassinato de 30 mil camponeses. Daí concluem que Lutero criou uma “inquisição” para matar os pobres camponeses indefesos...

O livro que todos eles citam (um copiando do outro), mas que nenhum deles leu, é a “História Universal”, de Veit Valentin. Por coincidência, encontrei este livro na biblioteca enquanto procurava por mais livros sobre Idade Média, Cruzadas e Reforma Protestante. Passei essa última semana lendo os dois volumes e vi, como já era de se esperar, a forma com que os embusteiros sem caráter tiraram totalmente do contexto as palavras de Valentin e todo o contexto que envolve a guerra dos camponeses. Irei deixar para comentar especificamente sobre este livro deturpado pelos apologistas católicos em um artigo dos próximos dias, e aqui me limitarei apenas a mostrar o que o autor diz sobre essa tal “inquisição” protestante.

A citação de Valentin que eles tiram do contexto e que é repetida à exaustão pelos blogs católicos é a seguinte:

“Infrutíferos, que Münzer crescia, pôs-se ao lado das autoridades e descarregou como uma bomba o seu escrito... Um documento de inclemência e de ódio, só compreensível como uma arma de combate contra o diabo, que Lutero via em Münzer e nos seus... Sufocaram a revolução dos camponeses com crueldade que mesmo naqueles rudes tempos causou horror. O furor, as torturas, as violências e as batalhas, pareciam que não teriam mais fim; pelo menos 30.000 camponeses perderam a vida”

O catoleigo sem instrução e sem conhecimento histórico que lê uma citação como essa, cheia de reticências, cortes e totalmente pincelada, pensa que o Lutero malvadão mandou matar 30.000 camponeses indefesos, que, pobrezinhos, nada estavam fazendo de errado e nada podiam fazer para se defender dessa monstruosa “inquisição protestante” armada pelo monge rebelado filho da serpente...

O que os vigaristas escondem é que o próprio Valentin, ao longo de todo o livro, faz questão de ressaltar que estes camponeses eram revolucionários arruaceiros, saqueadores, que destruíam tudo por onde passavam e que ameaçavam matar bem mais gente para levar adiante aquela que seria a primeira revolução da história, se não tivesse sido repelida pelo Estado. O autor em questão afirma:

“Em Zurickan surgiu uma corrente profética mística que se propagou até Wittenberg provocando tumultos e fervores fanáticos e degenerando numa lamentável e estúpida fúria iconoclasta. Movimentos semelhantes, verificaram-se em muitas outras localidades. Lutero tinha horror a esse proselitismo, nada lhe repugnava mais do que a multidão enfurecida e sequiosa de destruição[1]

Quem assistiu ao filme de Lutero deve se lembrar desta parte. Os camponeses revoltados, até aquele momento simpatizantes de Lutero, tumultuavam, saqueavam e destruíam tudo o que viam pela frente, sendo severamente repreendidos pelo próprio Lutero, que fez questão de mostrar que não era a favor deste movimento e que o repugnava. Mas os camponeses furiosos não queriam saber da opinião de Lutero, e continuavam fazendo suas bandidagens por onde passavam. Veit escreve:

“Bastilhas e mosteiros foram demolidos por eles, os bens monásticos divididos, o nobre dali por diante teria de viver como o camponês, a proteção do núcleo de seu patrimônio ficava a cargo de um ‘conselho rural’. Pior foi a destruição de preciosos monumentos eclesiásticos, tesouros de arte e bibliotecas; execráveis foram os maus tratos e o escárnio a que se submeteram os padres, monges e freiras”[2]

Como vemos, estes camponeses extremistas, muito diferente do que os apologistas católicos mentirosos tentam nos passar, não eram pessoas pacíficas e amigáveis que foram repelidas pela força do Estado em função de uma suposta “inquisição protestante”. Muito pelo contrário: eram bandidos travestidos de “revolucionários”, sobre os quais Valentin diz que lutavam por “um comunismo elementar de subsistência”[3]. Eram um MST numa versão muito mais agressiva, extremista e radical. Valentin deixa claro que Lutero era totalmente contra o que eles vinham fazendo:

“A Lutero desagradavam profundamente todas essas coisas. Seu reino não era deste mundo; realmente importante para ele só podia ser a eternidade; se o temporal queria impor-se assim não o toleraria. E dirigiu-se como conciliador a ambas as partes; atirou-se, impávido como sempre, ao encontro do aniquilamento, tentando conciliar. Quando viu que seus esforços eram infrutíferos, que Münzer crescia, pôs-se ao lado das autoridades e descarregou como uma bomba o seu escrito: ‘Contra os bandos de camponeses assassinos e ladrões’”[4]

Ou seja: mesmo vendo que os camponeses eram radicais, extremistas, revolucionários e que representavam uma ameaça real à segurança da nação, ele ainda fez questão de tentar primeiro pelas vias conciliatórias, tentando convencê-los a parar com a bandidagem. Mas ele não conseguiu. Os camponeses revoltados eram intransigentes e estavam absolutamente determinados a levar a cabo a “revolução”. Só depois que Lutero viu que não tinha como se omitir e muito menos como convencer os camponeses a mudar de atitude, é que ele escreve sua obra em que defende que o poder civil faça uso da força para reprimi-los.

Mesmo assim, Valentin é claro em dizer que os príncipes não fizeram a matança por causa de Lutero, porque, de uma forma ou de outra, eles iriam defender seu território contra a revolta:

“E afinal os príncipes, os nobres, a Liga Suábia não precisavam das advertências luteranas para se defenderem. Sufocaram a revolução dos camponeses com uma crueldade que mesmo naqueles rudes tempos causou horror...”[5]

Só um asno sem cérebro acredita mesmo que os príncipes do Estado, vendo seus territórios sendo conquistados, seus patrimônios sendo depredados e a vida deles e de suas famílias sendo colocadas em risco, mesmo assim não matariam ninguém se não fosse pelo Lutero malvadão escrever um livro em que defende essa atitude...

Na posição em que Lutero se encontrava, ele não podia ser omisso. Ele tinha duas opções: ou ficava do lado dos camponeses, ou ficava do lado do Estado. Se ele ficasse do lado do Estado, não teria como combater um exército gigante de camponeses revoltados com flores nas mãos, da mesma forma que não dá para vencer os terroristas do ISIS com balas de borracha. Em uma luta corpo-a-corpo, é matar ou morrer.

Naquelas condições, Lutero escolheu a primeira opção. O único erro do Estado foi ter usado uma força excessiva, praticando tortura (de acordo com o que diz Valentin). Mas Lutero em momento nenhum disse para torturar os camponeses, apenas para defender o território e matar em um contexto de guerra. E vale ressaltar, mais uma vez, que o próprio Valentin disse que a opinião de Lutero foi irrelevante. Os príncipes iriam defender seu território independentemente da opinião de Lutero.

Alguém poderia ainda sugerir que seria melhor que Lutero tivesse ficado ao lado dos camponeses, então. É o que os apologistas católicos, que não entendem porcaria nenhuma do que estava acontecendo, parecem sugerir. No entanto, a história nos mostra as consequencias catastróficas de uma revolução comunista. Essas revoluções já mataram mais de 100 milhões no mundo, dados extraídos do “Livro Negro do Comunismo”, e continuam matando até hoje. Junto a isso, o comunismo sempre trouxe consigo profunda decadência econômica, favorecendo com isso regimes ditatoriais, trabalhos forçados e outros milhões que morrem de fome.

Ou seja: por pior que possa ter sido a morte de 30 mil arruaceiros revolucionários, pode apostar que seria muito pior se o contrário tivesse ocorrido, isto é, se os revolucionários tivessem ganhado a guerra e implantassem um regime comunista naquele lugar. Não apenas um tanto muito maior de pessoas morreria, como também acarretaria em uma enorme crise econômica por toda a Alemanha, que muito dificilmente seria a potência mundial que é hoje. Gerações após gerações viveriam na miséria, na fome e no caos. Isso sem falar no fato óbvio de que uma revolução bem sucedida dos camponeses alemães iria suscitar novas revoluções no resto do mundo; afinal, os demais camponeses iriam criar esperanças de sucesso ao ver as conquistas do outro, o que resultaria em mais banho de sangue.

Valentin não diz quantos camponeses estavam lutando, mas outro historiador, David Christie-Murray, diz que eram 300 mil(!), um exército enorme para os padrões da época, muito superior a qualquer cruzada católica em direção à Terra Santa. Um exército de 300 mil revolucionários baderneiros era um potencial para um baita estrago na Europa, se tivessem vencido a guerra. Se isso tivesse acontecido, Lutero seria hoje responsabilizado pelos católicos por ser o primeiro “revolucionário”, ou seja, por ser o primeiro líder da primeira grande revolução bem-sucedida no planeta. Mas como ocorreu o inverso, Lutero é culpado mesmo assim: mas por ter ficado contra os camponeses!

Para os apologistas católicos, Lutero seria culpado de um jeito ou do outro. Ele sempre tem que estar errado sobre tudo. Se ficasse do lado dos camponeses, seria o culpado pela morte dos civis inocentes que não escapariam das mãos dos revolucionários. Por ter ficado do lado oposto, passou a ser o culpado pela morte dos camponeses assassinos que tocavam o terror na Alemanha, mas que mesmo assim são descritos da forma mais bonitinha possível pelos apologistas católicos, que pensam que Lutero mandou matar pobres inocentes indefesos em um contexto de paz e amor...

Valentin descreve esses camponeses bonzinhos da apologética católica de “comunistas-terroristas”:

“Em Münster na Westfália ocorreu uma série de movimentos espirituais: oposição rústico-burguesa, agitação apocalíptica. Surgiu o Estado anabatista, notável pelo fanatismo quanto à fé e ambição de poder terreno, uma temerária tentativa de criar na grande família uma nova sociedade comunista-terrorista. Todos os vizinhos coligaram-se contra essa revolução fantástica e prepararam um fim horrível aos seus prosélitos e líderes, o ‘rei’ João de Leiden na sua frente”[6]

E a prova mais clara de que o próprio Valentin não culpava Lutero por este episódio está nas próprias descrições do autor sobre o reformador protestante. Ele escreve sobre o “monge rebelado”:

“Sua influência crescia, todos lhe pressentiam a superioridade não só no saber, e na consciência, como no caráter. O caráter alemão personificado em ação, genuíno, desprendido, espiritual, sobretudo moralmente seguro de si, impregnado do sentimento nacional, estava concentrado nele humana e espontaneamente e por isso mesmo mais arrebatador”[7]

E também:

“Lutero, este verdadeiro alemão, é, num sentido elevado, digno de estima. Nele cascateava caudalosa a torrente de Deus; nisto foi único, não tendo tido sucessores”[8]

E também:

“O luteranismo conservou sempre algo de quietista; era, se não um isolamento monástico do mundo, um isolamento do grande no pequeno mundo, um renunciar às lutas políticas históricas para entregar-se ao tranquilo convívio de todos os dias com os seus pequenos e agradáveis prazeres”[9]

Quem é, em sã consciência, que, conhecendo a história de um bêbado malvadão que mandou matar na “inquisição protestante” 30.000 camponeses inocentes bonzinhos que não fizeram nada de errado, ainda assim o descreve como sendo um exemplo no caráter, genuíno, espiritual, “verdadeiro alemão”, digno de estima, que estava sob a torrente de Deus, e cuja vertente religiosa era “quietista” e renunciava às lutas políticas para ter um convício tranquilo e pacífico com todas as pessoas? Está óbvio que os canalhas da apologética católica estão distorcendo grosseiramente as palavras de Veit Valentin, de forma sorrateira e criminosa, esperando que ninguém leia o livro referenciado para desmascará-los.

Em suma, o autor citado pelos apologistas católicos para embasar uma suposta “inquisição protestante”:

• Nunca descreveu a guerra dos camponeses como sendo uma “inquisição”, muito menos protestante.

• Nunca disse qualquer coisa sobre aquilo ser fruto de intolerância religiosa (os camponeses eram, inclusive, simpatizantes de Lutero, que tentava convencê-los na base do diálogo a deixar a bandidagem).

• Nunca retratou esses camponeses como “inocentes”. Ao contrário: disse que eram bandidos, saqueadores, que depredavam as igrejas, quebravam as imagens, destruíam as bibliotecas e tentavam criar uma «nova sociedade comunista-terrorista»!

• Nunca disse que Lutero foi o “responsável” pela morte dos camponeses no campo de batalha. Ao contrário, disse que a opinião de Lutero era irrelevante, porque de qualquer forma os príncipes iriam defender seus territórios assim mesmo.

• Nunca disse que Lutero cometeu um erro ao ficar do lado do poder civil e contra os camponeses revolucionários. Ao contrário, ressaltou que Lutero era um exemplo de caráter, genuíno, espiritual e digno de estima.

Essa, amigos, foi a terrível, monstruosa e abominável “inquisição protestante”, inventada diretamente pelos lunáticos da apologética católica.

Agora já podemos voltar a falar da inquisição católica, ou seja, a que existiu. Para o lixo o revisionismo mentiroso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,