quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Evangélicos, que são uma força crescente no Brasil, vão impactar eleições

Marcelo Silva de Sousa

RIO DE JANEIRO (Associated Press) — Em uma eleição presidencial brasileira marcada por incertezas, há pouca dúvida sobre uma coisa: os eleitores evangélicos terão um grande impacto.
Evangélicos levantando as mãos durante louvor na igreja de Silas Malafaia (foto da Associated Press/Leo Correa)
Eles poderão ser um fator decisivo graças a seu número crescente de pessoas, presença em áreas remotas, bairros pobres e força organizacional, especialmente porque as corporações foram proibidas de fazer contribuições diretamente aos candidatos após o imenso escândalo de corrupção do país.
Tentativas de atrair evangélicos são evidentes na campanha antes da eleição de 7 de outubro. Nas últimas semanas, um dos principais candidatos chorou ao receber orações durante um culto em uma igreja evangélica. Outro prometeu mudanças legislativas na proibição do aborto no Brasil. Um terceiro realizou reuniões com vários dos pastores mais influentes de São Paulo, o estado mais rico e populista do Brasil.
“O voto evangélico é muito orgânico em que pastores e bispos têm um relacionamento com seguidores que influenciam o modo como eles votam,” disse Antonio Lavareda, que escreveu vários livros sobre a política brasileira. “É o oposto na Igreja Católica, onde, apesar de ter mais fiéis, os padres têm menos influência direta.”
Mulher dá oferta usando seu cartão de débito para a Assembléia de Deus Vitória na Igreja de Cristo (foto da Associated Press/Leo Correa)
Os evangélicos já exercem grande influência na política nacional. A chamado “bancada evangélica” no Congresso é formada por 87 deputados e três senadores, cerca de 15% de todos os legisladores federais.
Seus votos foram fundamentais para o impeachment de 2016 e a expulsão da presidente Dilma Rousseff por administrar ilegalmente o orçamento federal. João Campos, deputado e pastor que ajudou a liderar a bancada, disse que se opor a Dilma era uma maneira de defender os pobres que perderam seus empregos como consequência de escândalos por causa de propinas desde construtoras até políticos.
Os eleitores evangélicos do Rio de Janeiro também ajudaram a impulsionar Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, para prefeito da cidade mais famosa do Brasil em 2016.
Mulher distribui folhetos que apresentam o pastor evangélico Silas Malafaia com dois candidatos políticos (foto da Associated Press/Leo Correa)
O Brasil, um país profundamente religioso levemente maior que o território continental dos EUA, abriga o maior número de católicos do mundo — cerca de 123 milhões, segundo o último recenseamento de 2010. Mas os evangélicos estão crescendo e agora são 42 milhões, ou cerca de 20% da população total.
E há pouca comparação quando se trata de ativismo político. Enquanto o Vaticano desaprova o clero concorrer a cargos, muitos líderes evangélicos mergulham na política.
A influência dos evangélicos se estende à mídia. Edir Macedo, fundador da igreja de Crivella, é dono da TV Record, uma das maiores emissoras do Brasil. As igrejas evangélicas também são grandes compradores de tempo de televisão, de modo que programas religiosos podem ser vistos a qualquer hora do dia.
Silas Malafaia, um dos pastores mais influentes do Brasil, não vê nada de errado em tentar influenciar os votos dos membros de suas mais de 50 igrejas.
Pastor Silas Malafaia, um dos líderes evangélicos mais influentes do Brasil, não vê nada de errado em tentar influenciar os membros (foto da Associated Press/Leo Correa)
Durante uma recente entrevista à Associated Press, ele disse orgulhosamente que ele ajudou a eleger 25 deputados e cinco senadores. Seu próprio irmão é deputado estadual no Rio de Janeiro.
“Eu ajudo os candidatos a serem eleitos emprestando-lhes minha imagem e palavras,” disse Malafaia, que no púlpito e nas mídias sociais argumenta que candidatos de esquerda promovem “lixo moral” com posições liberais sobre o casamento gay e o aborto.
Malafaia tem sido explícito em seu apoio a Jair Bolsonaro, deputado de extrema direita e ex-capitão do Exército que prometeu reprimir o crime e erradicar a corrupção na política.
“No Brasil, precisamos de um macho como ele,” disse Malafaia, acrescentando que Bolsonaro “defenderá todos os valores e princípios da família cristã.”
No último final de semana, Malafaia visitou Bolsonaro no hospital, onde o candidato estava se recuperando após ser esfaqueado durante um evento de campanha em 6 de setembro.
“Deus é especialista em transformar caos em bênção,” disse Malafaia em um vídeo que ele postou no YouTube no quarto de hospital de Bolsonaro.
Albanita Alves, uma dona de casa que frequenta a Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo de Malafaia no Rio de Janeiro, diz que seguirá seu pastor.
“Temos a liberdade de escolher nosso candidato,” disse Alves. “Mas como homem de Deus, (Malafaia) tem uma visão mais ampla do que nós, por isso é importante que nós vejamos o ponto de vista dele.”
Uma evangélica se ajoelha em oração enquanto espera o pastor Silas Malafaia falar (foto da Associated Press/Leo Correa)
No mês passado, Bolsonaro, que é católico, chorou ao receber uma oração de bênção em uma igreja batista no Rio de Janeiro. Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo que também é católico, foi convidado especial durante uma reunião de pastores no estado no mês passado. Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente que pertence a uma igreja evangélica, recentemente prometeu aos evangélicos em Belo Horizonte, a terceira maior cidade do Brasil, que qualquer mudança na lei do aborto teria de ser feita por meio de plebiscito e não pelo Congresso.
O voto evangélico poderá ser mais importante do que no passado, pois o campo eleitoral está muito fragmentado, com mais de uma dúzia de candidatos lutando por vantagens.
Agora que a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi liquidada por uma condenação por corrupção, Bolsonaro está liderando nas pesquisas — ao que tudo indica com a assistência de apoiadores evangélicos.
Enquanto ele recebe cerca de 26 por cento nas pesquisas de todos os eleitores, ele é apoiado por 33 por cento dos eleitores que se identificam como evangélicos, de acordo com uma pesquisa do instituto de pesquisa Ibope divulgada na terça-feira.
Simpatizantes se juntam para apoiar Jair Bolsonaro, candidato presidencial de direita que foi esfaqueado em um evento de campanha (foto da Associated Press/Andre Penner, arquivo)
Dez por cento dos evangélicos apoiaram Alckmin e Marina Silva e sete favoreceram Ciro Gomes. Muito longe atrás estava Fernando Haddad, que assumiu o lugar de Lula para o Partido dos Trabalhadores, de esquerda, embora a pesquisa tenha sido realizada antes de ele receber o apoio formal de Lula para a campanha presidencial.
A pesquisa entrevistou 2.002 pessoas entre 8 e 10 de setembro e teve uma margem de erro de dois pontos percentuais.
“Hoje os candidatos mais alinhados com nossos valores são Alckmin e Bolsonaro, mas ainda precisamos conversar com eles para saber o que cada um está propondo,” disse o bispo Robson Rodovalho, um dos fundadores da Sara Nossa Terra, uma rede de igrejas evangélicas em todo o Brasil.
Traduzido por Julio Severo do original em inglês da Associated Press: Evangelicals, growing force in Brazil, to impact elections

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