Especialista diz que a recente decisão da Guatemala de mudar sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém se deve ao evangelicalismo adotado pelo presidente Jimmy Morales.
Tupac Pointu
As igrejas evangélicas estão crescendo na América Latina tradicionalmente católica e com o crescimento desse movimento religioso, sua influência — inclusive nas eleições deste fim de semana no Brasil — está transformando a região e movendo sua política para a direita, dizem analistas.
Fortemente contra o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a legalização da maconha e a ideologia esquerdista em geral, o movimento evangélico impulsionou os conservadores e ajudou a derrubar vários governos de esquerda em toda a América Latina.
Igrejas evangélicas poderosas estão agora ajudando a mudar a situação no Brasil, onde o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro está no topo das pesquisas antes do primeiro turno da eleição presidencial de domingo.
“As recentes eleições no Chile, Costa Rica, México, Colômbia, Guatemala e a próxima no Brasil revelam uma maior polarização eleitoral e uma mudança para a direita política,” diz Andrew Chesnut, diretor de Estudos Católicos da Universidade Commonwealth da Virginia.
No México, “embora seja de centro-esquerda, López Obrador sentiu que tinha de fazer uma aliança com um pequeno partido conservador fundado por um pastor pentecostal, para garantir sua vitória,” diz Chesnut, referindo-se ao presidente eleito Andres Manuel López Obrador.
Fervor político
A América Latina tem 40% dos católicos romanos do mundo, mas as igrejas evangélicas que nasceram do protestantismo americano no início dos anos 1900 estão atraindo mais e mais seguidores, e elas são cada vez mais influentes nas eleições.
De acordo com um estudo de 2014 do Centro de Investigações Pew nos EUA, um em cada cinco latino-americanos é evangélico.
Essa cifra sobe para 41% em Honduras e na Guatemala, onde o general Efrain Rios Montt se tornou o primeiro chefe de Estado pentecostal do mundo quando chegou ao poder em um golpe militar de 1982.
A maioria das novas igrejas é pentecostal, um movimento energizado pela expectativa da iminente segunda vinda de Cristo.
O crescimento pentecostal tem sido tão forte no Brasil que esse gigantesco país sul-americano “agora abriga a maior população pentecostal do mundo com mais seguidores do que até mesmo nos EUA,” disse Chesnut.
William Mauricio Beltran, professor da Universidade Nacional da Colômbia, disse que as igrejas evangélicas “conseguiram responder melhor às necessidades das novas gerações de latino-americanos.”
“Particularmente no contexto de uma mudança social acelerada, caracterizada pela rápida urbanização e globalização, aumento da incerteza e aumento da pluralização social.”
Esses “processos que deixaram grandes setores da população excluídos, ou com pouquíssimas oportunidades”.
Tanto para Beltran quanto para Chesnut, os escândalos de pedofilia na Igreja Católica — do tipo que atualmente atormenta a Igreja no Chile — ajudaram a empurrar mais cristãos para os movimentos evangélicos.
No coração do debate político
O evangelicalismo tem desempenhado um papel fundamental em algumas das maiores revoluções políticas da América Latina nos últimos anos, disse Gaspard Estrada, especialista em política latino-americana na Universidade de Ciência Po, em Paris.
Elas incluem o impeachment da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a votação do “Não” no referendo colombiano sobre o acordo de paz das FARC em 2016, e a recente decisão da Guatemala de mudar sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
“Os temas que são muito valorizados pelos evangélicos estão cada vez mais presentes no debate público,” disse Estrada.
Ele ressalta que o evangelicalismo adotado pelo presidente guatemalteco Jimmy Morales pesou muito em sua decisão de transferir a embaixada.
De acordo com os evangélicos, os judeus deveriam reconstruir seu templo bíblico em Jerusalém, o que é um passo fundamental em uma série de eventos que levarão a uma segunda vinda de Jesus Cristo na Terra.
“Os pastores evangélicos intervêm muito mais no dia a dia dos seguidores, não veem problema em convocar as pessoas para votar em alguém,” disse Estrada.
Antes da eleição do Brasil no domingo, a influente Igreja Universal do Reino de Deus adotou postura pública forte em favor de Bolsonaro, o ex-capitão do exército que é o favorito para vencer.
Mudando para a direita
Mais do que uma mudança para a direita, o crescimento evangélico explosivo “é uma vitória para o movimento alternativo,” acredita Estrada.
“Por causa dos escândalos de corrupção, falta de liderança e crescimento estagnado, há uma radicalização do eleitorado na América Latina. Os eleitores estão sendo empurrados para candidatos extremos e alternativos,” disse Estrada.
“Essa manifestação do voto evangélico e conservador é uma reação ao avanço do voto feminista e da sociedade civil.”
De acordo com Beltran, da Universidade Nacional da Colômbia, as igrejas evangélicas estão conseguindo se mobilizar em uma máquina política “cujo papel e poder devem ser levados em conta em cada eleição.”
Traduzido por Julio Severo do original em inglês do jornal israelense Times of Israel: Evangelicals wield voting power across Latin America, including Brazil
Fonte: www.juliosevero.com
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