sábado, 10 de fevereiro de 2024

O Brasil era mais seguro quando havia armas nas mãos do cidadão?

Bom, procure uma foto antiga de um bairro residencial normal (nem rico nem muito pobre) e provavelmente vai notar uma coisa:

Você via as casas!


Antes que ria e diga que hoje também se veem as casas, eu falo no sentido que não havia muros. Ou melhor, os muros tinham meio metro, talvez um metro de altura e serviam mais para animais, crianças e bêbados não entrarem no quintal que para impedir a entrada de ladrões.

Está “abertura”, que permitia a melhor visão um do outro criava mais proximidade entre vizinhos. Sei, sei que não gosta de vizinhos e acha ótimo menos contato, mas isto é porque você nasceu e cresceu num mundo diferente, se tivesse nascido em 1960, 1970 e até 1980 acharia ótimo ter contato com os vizinhos, havia um maior senso de comunidade, as pessoas eram pessoas, não desconhecidos que moram na mesma rua.

Não estou dizendo que era perfeito, não era. Mas era mais calmo, tranquilo e seguro.


Clickbait no Quora.

Eu nasci nos anos 70, então peguei a mudança acontecendo.

Havia uma música, sucesso nos anos 80, Tique nervoso, em que o cantor contava a razão para ter tido um tique nervoso. Eram situações absurdas que eram azar acontecer uma delas para alguém e ele deu com todas elas juntas. Mas uma estrofe dizia “e ontem fui assaltado em plena luz do dia”, quer dizer, você ser assaltado de dia? Era um absurdo, algo que só aconteceria no pior dos piores dos piores casos.

Hoje é normal ser assaltado a qualquer hora, há reportagem de pessoas assaltadas a 100 metros de uma delegacia de polícia!

Para se defender da criminalidade que só crescia, as pessoas começaram a trocar os muros que protegiam de cachorros e crianças para muros altos, que escondiam o que havia de valor no quintal (mas também as pessoas umas das outras) e em outra música, agora dos anos 90, também falava da mudança “Os assassinos estão livres, nós não estamos”, no sentido que os bandidos agora andadam pelas ruas e as famílias trancadas em casas gradeadas e muradas.

De novo, se você nasceu e cresceu neste mundo, acha-o normal (e talvez, até, melhor) mas não é. O ser humano é um animal gregário, que se enturma e cria comunidades. Uma família apoia a outra. Pessoas se preocupam (e, sim, acabam sendo chatas quando a preocupação vem sem ser pedida) e desta comunidade as pessoas crescem mais unidas, melhores.

Mas bem, sua pergunta tem a ver com armas de fogo e se elas tem relação com estes tempos melhores.

Hmmm…

Um pouco, talvez.

Entenda que havia crimes antes. Mortes passionais. Roubos seguidos de morte. Discussões por política, futebol, dinheiro e mulherea levavam a brigas. E as armas nas mãos de desequilibrados levavam à mortes.

Mas eram relativamente poucas.

7.1 mortes por 100.000 habitantes nos anos 80.

Falo relativamente poucas comparadas a hoje. 7.1 mortes por 100.000 habitantes é muito alto hoje, em 1980 era altíssimo. Mas comparados aos 22.4 de 2022, era pouco.

Claro que hoje temos um fator que não havia (não neste nível) em 1980, que são as drogas. Pessoas não matam “apenas” por dinheiro, mulheres ou bêbados, matam para poderem comprar drogas ou para manter pontos de venda de drogas.

Mas mesmo que metade das mortes envolvam drogas, seriam 11.2 mortes por 100.000 habitantes pelos mesmos motivos de 1980, ou seja, piorou e agora é muito difícil ter armas… Oras, o que aconteceu? Pela lógica não deveria ter diminuído ou, ao menos estabilizado?

A lógica do pesadelo.

Se leu a frase de Enéas Carneiro, vai ver que ela é lógica, absurdamente lógica. Se bandidos roubam para comprar drogas, porque não roubam justamente dos traficantes? Porque estes andam armados.

Armas tem o poder de dissuadir pessoas mal intencionadas.


Dissuadir é fazer uma pessoa mudar de ideia. E a dúvida se a pessoa teria uma arma ou não fazia muitas pessoas mudarem de ideia quanto a arrumar brigas ou buscarem usar a violência contra ela:

Imagine que você seja um ladrão comum, em 1978. Há pessoas que andam armadas e há pessoas que andam desarmadas. Você vai sair na rua assaltando pessoas? De repente a pessoa que você está assaltando não está armada ou, sob a mira de sua arma, não vai reagir. Mas e um transeunte qualquer? E se ele ver o assalto de longe e agir para proteger a vítima?

Por isto o ladrão preferia ficar em lugares ermos, ruas vazias e assaltar de surpresa, tomar o que queria e ir embora. Se ele matasse a vítima, as pessoas naquela região passariam a andar armadas por medo dele e ele poderia morrer, até isto era uma razão pelo menor número de crimes letais.

Invadir uma casa em 1978? O dono conhecia a casa, poderia ficar escondido num canto, no escuro e, quando o bandido passasse, o abater. E sendo invasão ao domicílio, ele teria no máximo a chateação de ser processado, ainda que com 100% de chances de não ser punido, pois estava defendendo seu lar.

E não para aí.

O poder de dissuasão das armas valia para as relações sociais também.

Você arrumar briga no trânsito, sem saber se a outra pessoa estava armada? Sem chance. Ou havia a chance, mas era muito menor.

Um adulto seduziu uma garota menor de idade? Haveria o risco de o pai ir atrás dele para tirar satisfações e, bom, havia os loucos de fazer isto…

Mas já leu as notícias? Batemos o recorde de crianças de 10 anos grávidas. Muitas delas, de marmanjos que sabem que não serão presos (e, se forem, sairão da prisão no mesmo dia). Em 1978, o medo de o pai agir "pela honra da família" fazia com que muitos preferissem não fazer este tipo de bobagem.

Havia a gravidez “infantil”? Havia. Mas era tão rara que apesar de todos conhecermos um caso, era um caso. Não dezenas, como hoje.

Não é que fosse legal um pai matar um homem de 32 “só” porque ele fez sexo com sua filha de 12, mas também não era legal o homem de 32 fazer aquilo e a possibilidade de haver uma arma e ser morto servia de desincentivo.

Por conta do receio constante, as relações eram mais respeitosas.

"Ah, mas respeito baseado em medo não é bom!"

Pois é, mas é o respeito que os traficantes tem nas comunidades. Onde a polícia não vai, se uma pessoa fizer algo errado com outra e a vítima for ao traficante local pedir ajuda, ele impõe sua justiça, com armas ilegais, a mesma justiça que a polícia não dá e a lei demora décadas para julgar e punir.

Ou seja, apelar a quem tem armas (proibida à população) gera resultados mais rápidos que apelar à lei.

No caso de 1978, funcionava na base de “Não sei se há risco, não vou arriscar” e, justamente porque ninguém queria morrer, ninguém abusava.

Obviamente havia loucos em 1978, bêbados e drogados e muitos eram vitimados (como eu disse, 7 mortes por 100.000 habitantes é muito, sinal que o Brasil era violento), mas os muito loucos eram minoria, enquanto hoje até os "um pouco" loucos sabem que podem ser loucos a vontade que não acontece nada.

A polícia?

Se você não mora no centro ou em bairro rico, se ligar as 3 da manhã dizendo que estão invadindo sua casa, às 9 da manhã estarão chegando lá.

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