O governador da Flórida, Ron DeSantis, que busca a indicação do Partido Republicano para concorrer à presidência dos Estados Unidos no próximo ano, frequentemente se destaca com um ponto central: ele argumenta que o estado que ele governa é um lugar onde a cultura do “woke” encontra seu fim. As informações são da Folha.
Desde assumir o cargo, o líder conservador tem liderado uma série de iniciativas para restringir concepções ligadas à esquerda sobre questões de gênero e raça em ambientes escolares e corporativos. Ao mesmo tempo, ele tem ignorado críticas de comportamento autoritário. Dessa forma, ele busca consolidar sua posição como o candidato republicano que desafiará Joe Biden.
No entanto, é possível que a ameaça considerada significativa pelos republicanos não seja tão formidável quanto se pensava. Ou, pelo menos, essa ameaça pode estar próxima do seu término. Indicações recentes apontam que a tendência “woke” — frequentemente compreendida como “politicamente correto” — talvez já tenha alcançado seu ápice de influência e esteja nos estágios iniciais de uma diminuição.
Essa perspectiva tem sido defendida pelo sociólogo Musa al-Gharbi, afiliado à Universidade Columbia em Nova York. Ele está programado para lançar ainda este ano o livro intitulado “We’ve Never Been Woke” (Nunca Fomos “Woke”), no qual sustenta que a diminuição desse tipo de ativismo é respaldada por pesquisas que, individualmente, poderiam ser consideradas evidências anedóticas, mas quando analisadas em conjunto, apontam para uma transformação do panorama.
Uma análise realizada pelo próprio al-Gharbi em plataformas de artigos acadêmicos revela que a tendência nas pesquisas relacionadas à discriminação racial e de gênero está declinando, marcando uma inversão após mais de duas décadas de crescimento contínuo.
A organização Fire (Foundation for Individual Rights and Expression), que promove a liberdade de expressão nas universidades americanas, apresentou dados que demonstram uma redução no ano anterior nos incidentes de ataques a professores com motivações ideológicas, assim como nos casos de cancelamento.
Somente durante este ano, três instituições educacionais nos Estados Unidos adotaram ações que foram interpretadas como gestos simbólicos em resposta a comportamentos de estudantes. Por exemplo, a reitora da Universidade Stanford repreendeu alunos que interromperam uma palestra de um juiz em março. Na Universidade Cornell, houve a recusa em implementar “avisos de gatilho” em currículos, argumentando que isso infringiria a autonomia de ensino dos professores. Além disso, a Universidade Harvard criou um Conselho de Liberdade Acadêmica com o objetivo de promover a “diversidade intelectual”.
O que é refletido na imprensa americana também pode servir como um indicador significativo. Um estudo realizado pelo cientista de dados David Rozado, que possui doutorado em ciência da computação pela Universidade Autônoma de Madri, analisou a frequência de palavras associadas a tópicos políticos e de identidade no jornal The New York Times desde a década de 1970. Após um ápice nos anos 2010, palavras e expressões relacionadas a temas como raça, racismo, sexismo, misoginia, privilégio branco e outras passaram a ser empregadas com menos frequência.
Indícios de uma transformação também são visíveis em áreas mais complexas de mensurar. As novas diretrizes implementadas por Elon Musk na plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, são acolhidas com simpatia pela ala conservadora, já que incluem a reativação das contas de Donald Trump e de outras personalidades.
Enquanto isso, na Netflix, dois anos atrás, houve protestos por parte dos funcionários contra o programa de comédia de Dave Chappelle na plataforma. No entanto, ao invés de receberem as tradicionais desculpas, o que era comum no passado, eles foram informados de que, se estivessem insatisfeitos, poderiam optar por deixar seus cargos.
Continuando nesse contexto empresarial, informações do Wall Street Journal indicaram uma diminuição de 75% nos anúncios de vagas para o cargo de diretor de diversidade em empresas. Esse cargo havia ganhado popularidade durante a última década.
O mais recente estudo conduzido pelo New York Times em parceria com o Siena College, realizado em julho, revela que até mesmo os conservadores podem ter exagerado na relevância desse tópico junto aos seus eleitores: 65% dos republicanos afirmaram que preferem um candidato que enfatize a “lei e a ordem”, enquanto apenas 24% expressaram preferência por um candidato que combata a “ideologia woke”.
É possível que a dificuldade de DeSantis em ganhar força nas primárias tenha uma explicação. No mesmo levantamento, ele é registrado com 17% das intenções de voto, enquanto Donald Trump alcança 54%.
Fonte:https://www.ocafezinho.com/2023/08/21/pesquisas-sugerem-declinio-do-movimento-woke-nos-eua/
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